«Trilho das Vindimas»: Rezar e pisar uvas

Convento de Avessadas propõe atividade de três dias que une espiritualidade e natureza

Avessadas, Porto, 24 ago 2011 (Ecclesia) – Às 07h00 os pés já estarão na vinha para cortar cachos e carregar cestos de uvas, que ao anoitecer serão pisadas ao som de cantos populares, num ritmo marcado pela oração do nascer ao pôr do sol.

O Convento de Avessadas, próximo de Marco de Canaveses, propõe pela primeira vez o ‘Trilho das Vindimas’, iniciativa que de 16 a 18 de setembro pretende aliar a espiritualidade católica à natureza, numa região incluída na ‘Rota do Vinho Verde’.

“Há muitas passagens bíblicas que falam do simbolismo da videira, da uva e do vinho”, com o qual se celebra a eucaristia, o mais central dos sete sacramentos da Igreja Católica, sublinha o padre Alpoim Portugal em entrevista à Agência ECCLESIA.

O superior da comunidade de religiosos carmelitas da comunidade de Avessadas, 370 km a norte de Lisboa, está à espera de participantes que nunca entraram numa vinha e ignoram o que é uma parreira, à semelhança do que já ocorreu em atividades semelhantes, designadas “Trilhos Orantes”.

As pessoas “ficam extasiadas diante destas descobertas”, salienta o sacerdote de 59 anos, explicando que o objetivo da iniciativa é proporcionar um “trabalho dentro da natureza” vivido “como ação de graças a Deus, de quem tudo procede”.

Sábado é o dia principal: o despertar é às 06h30 e meia hora depois começa a vindima com uma oração baseada na Bíblia, para “dar o tom ao dia” e lembrar aos participantes que não estão só “pela obrigação do trabalho”.

Ao longo da jornada repetem-se pausas de três minutos para a escuta de um excerto bíblico, com o objetivo de “tomar consciência da presença de Deus”, proporcionando um momento de “respiração mais profunda”, indica o padre Alpoim, acrescentando que “a oração vai ter um impacto grande” na iniciativa.

O pequeno-almoço e o almoço decorrem na vinha, juntamente com os trabalhadores contratados para a vindima, e o trabalho continua até à noite, altura em que o cenário muda para o lagar, onde as uvas são pisadas ao som de cantigas populares.

“Levar os cestos carregados de uvas para o atrelado” é um trabalho “um bocadinho mais pesado” do que cortar os ramos, uma atividade “suave” que pode ser realizada por “qualquer jovem”, refere o sacerdote.

Além do simbolismo cristão associado à videira, a iniciativa que exige um mínimo de 15 participantes contribui para a produção do “Vinho do Menino”, nome inspirado no Santuário do Menino Jesus de Praga, integrado no convento.

Entre o tinto e o branco verdes, a preferência do padre Alpoim vai para o segundo, com cerca de 12 graus, “mais leve, suave e frutado”, que “deve beber-se muito fresquinho, acompanhando aperitivos, como o queijo, e pratos de peixe”.

Os dois hectares de vinha produziram em 2010 oito mil litros de branco e metade de tinto, ambos à venda exclusivamente no convento: “Se mais tivéssemos mais depressa o vendíamos”, assinala.

O ‘Trilho das Vindimas’ começa numa sexta-feira à noite, com a apresentação dos participantes e dos objetivos da iniciativa, enquanto que o domingo, terceiro e último dia, é dedicado ao descanso, à celebração da missa e ao almoço de encerramento.

RM

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Agência ECCLESIA

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