Paulo Rocha, Agência Ecclesia
A mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais tem três objetivos: ajudar a prevenir a “difusão de notícias falsas”, a “redescobrir o valor da profissão jornalística” e a envolver cada pessoa “na comunicação da verdade”.
Assim, é um documento dirigido a todos, não apenas a jornalistas e a outros profissionais do setor; também e sobretudo ao público, utilizador e produtor de conteúdos, aos seguidores de meios de comunicação social, que hoje são grupos nas redes sociais, comunidades de amigos, mais ou menos conhecidos mas com afinidades tidas como relevantes, de tal forma que ligam pessoas e determinam comportamentos, consumos, decisões.
O atual ambiente que carateriza a comunicação tem de ser o ponto de partida para assimilar e assumir a proposta do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais: prevenir notícias falsas, redescobrir a profissão do jornalista e comprometer cada pessoa na comunicação da verdade. Porque é também a partir deste contexto, muito determinado pelas redes sociais, que os “grandes” media escrevem a sua história e definem linhas editoriais de jornadas informativas ou projetos de entretenimento.
Dinamismos de comunicação que acontecem numa movimentação aparentemente paradoxal: se, por um lado, as redes permitem ligar pessoas em qualquer parte do mundo, descobrir amizades antigas e gerar novas, partilhar situações e experiências comuns de qualquer âmbito social, por outro e ao mesmo tempo que alargam ligações, estreitam olhares de um grupo ou comunidades que fazem parte da mesma rede. Porque o polo agregador é sempre em torno de um tema, um acontecimento, pessoa ou certeza, cada vez mais dominante diante de qualquer outro que ousadamente queira conquistar atenção.
As “fake news”, na atualidade, têm este enquadramento. São lançadas em redes que, mais do que as filtrar ou corrigir, potenciam-nas, dão-lhes palco, audiência, público. Nascem e são divulgadas em torno de um grupo que jamais admitiria tratar-se de uma falsidade, uma vez que em causa está o próprio grupo.
Por outro lado, o contexto comunicacional da atualidade tem de ter presente também o nascimento de notícias falsificadas em ambiente “profissional”. Porque há empresas que, tendo por objetivo colocar nas mãos dos jornalistas acontecimentos a comunicar, colocam no seu regaço falsidades, enganam deliberadamente. E, por vezes, por camaradas de profissão que depõem por uns tempos a carteira profissional, mas nunca deveriam abdicar da deontologia profissional, como se a humana não bastasse.
Os três eixos sobre a era mediática atual proposto pelo Papa na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais são, por isso, de grande relevância e implicam todas as pessoas. Cada um deles exige outras tantas atitudes que ajudem seguir os desafios de Francisco: prevenir a difusão de notícias falsas pelo distanciamento crítico e metódico em relação a todas as mensagens e pela procura de informação em mais do que um órgão de comunicação; redescobrir o valor da profissão do jornalista num contexto de proliferação irregular de mensagens a exigir uma mediação cada vez mais assertiva do jornalismo, uma irrenunciável profissão que nunca pode distanciar-se de tradições que definem a classe, nomeadamente a que os lança para as fontes, para a procura do contraditório e, antes de tirar conclusões, ouvir ainda uma terceira voz; e comprometer cada pessoa na comunicação da verdade como um exercício do quotidiano naquilo que cada um transmite, por um lado, e, por outro, sobretudo no que todos recebem e têm a possibilidade de rejeitar ou desligar quando em causa possa estar uma falsidade.
Três propostas para habitar o ambiente digital que marca a comunicação, com verdade!
Paulo Rocha
Igreja/Media: Jornalistas saúdam apelo do Papa a «redescobrir» a profissão