Treinadores de bancada

Isabel Figueiredo, diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Não sei nada de futebol, mas sou incapaz de passar ao lado de um campeonato da nossa Seleção. Sofro quando perdemos, salto de alegria quando ganhamos e emociono-me quando cantamos o nosso hino. Confesso que tenho dificuldade em entender os passes de cada jogador, os fora de jogo, as decisões dos treinadores. Mas reconheço a dimensão de um desporto que move milhões de adeptos e até já consigo entender que me falem da beleza do jogo da bola. Tudo isto me veio à memória depois de assistir ao nosso primeiro jogo no Campeonato da Europa, no passado dia 18 de junho.

No final desse jogo e no dia seguinte, só consegui ouvir críticas ao nosso desempenho. Com maior ou menor veemência, de forma mais ou menos objetiva, parecia unânime o tom negativo com que se falava da nossa vitória, ganha com pouco mérito ou mesmo nenhum e vaticinando, com grande reserva, o resultado dos próximos jogos. Lembro-me de ouvir dizer em casa, que todos os portugueses têm uma costela de treinadores de bancada, o que não se pode levar a mal, porque estamos a falar do desporto rei. Mas na minha ignorância, dei comigo a pensar se não seríamos capazes de nos alegrar com esta vitória, pondo de lado os “ses” e as falhas.

Mais tarde, lembrei-me de uma outra situação, nada comparável em termos de natureza, mas capaz de provocar reações idênticas. Quando o atual governo tomou posse e iniciou a normalidade da governação, não faltaram as vozes que tudo criticavam, pelo que ainda não se tinha feito, pela forma como se estava a fazer ou pelo que tinham prometido e ainda não estava feito.

Parece que faz parte do nosso ADN, uma atenção permanente a tudo o que se passa à nossa volta, mas marcada pela dimensão do negativo, um negativo que muitas vezes é justificado pelo rigor, a isenção, o conhecimento de cada um que “nos” permite dizer e avaliar quase tudo.

Também aqui, a comunicação social desempenha um papel importantíssimo, uma vez que nela ecoa a visão do mundo que transmite e revela. Como já tive inúmeras ocasiões de dizer e escrever, precisamos de uma comunicação social atenta ao mal e ao bem. Na mesma proporção e com uma dimensão idêntica. Uma comunicação social capaz de nos inquietar com mal que denuncia, mas também capaz de nos tranquilizar com o bem que acontece.

Cada vez admiro mais os homens e mulheres que conseguem seguir em frente e fazer acontecer aquilo em que acreditam, apesar de tantos ventos e marés. Conscientes de que o ânimo, a vontade, a superação das dificuldades e inseguranças, devem ser metas a atingir diariamente.

Hoje é dia de Portugal jogar. Acredito que todos estaremos a “torcer” pela nossa Seleção, e aconteça o que acontecer, acredito que a maioria dos Portugueses vai apoiar a nossa Seleção e bater palmas até doer!

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Agência ECCLESIA

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