Entrevista ao Sheik David Munir Um muçulmano analisa a viagem do Papa à Turquia: um passo que trará benefícios no diálogo entre as partes, que podem e devem deixar visitar-se reciprocamente. Agência Ecclesia – Que passos foram dados no diálogo com o islamismo na recente viagem de Bento XVI à Turquia? Sheik Munir – Na minha opinião, acho que houve três passos importantes: o primeiro foi entre os cristãos, entre os católicos e os ortodoxos; o segundo passo importante foi entre a comunidade católica e a comunidade muçulmana; e o terceiro passo, o diálogo entre os ortodoxos que vivem na Turquia e os muçulmanos. AE – Para católicos e muçulmanos, que importância teve esta viagem? SM – Em todos os aspectos foi positiva. É claro que ainda é cedo para vermos os frutos desta viagem. Num futuro próximo veremos mais benefícios. Este foi o primeiro passo. Esperemos que não seja o último passo. Estou esperançado que os outros países islâmicos façam o convite ao Papa e que ele aceite esse convite. Espero também que haja o convite da parte do Vaticano, não aos líderes políticos, mas aos ímanes das mesquitas dos países islâmicos. AE – Aquele minuto de silêncio de Bento XVI na Mesquita Azul ficará na história desta viagem. Como interpreta o gesto do Papa? SM – De respeito. É uma abertura. Isso só significa que não muçulmanos podem entrar numa mesquita, porque a mesquita é casa de Deus e Deus é de todos. AE – Depois do discurso de Ratisbona, poucos pensariam que Bento XVI rezasse numa mesquita. SM – Provavelmente. Alguns até nem queriam que ele fosse. Eu creio que trará resultados positivos. AE – A presença do Papa foi a afirmação da Turquia como uma ponte entre o Islão e o Ocidente? SM – A ponte sempre existiu. João Paulo II percorreu-a, fizeram-se vários encontros… Bento XVI foi uma das pessoas que atravessou a ponte, apesar das declarações que ele fez. É preciso é haver mais travessias… AE – A Turquia faz a síntese entre os valores islâmicos e a democracia Ocidental SM – A Turquia é um país laico, é um país em que, segundo a laicidade, todas as religiões têm o mesmo direito, apesar ser um país onde a população maioritária é muçulmana. Nós notamos que há muçulmanos que estão a ser perseguidos, como há não-muçulmanos que também estão a ser perseguidos. Acho que não é por razões religiosas, mas por outras razões… AE – Antes e durante a viagem do Papa vimos muitas imagens de manifestações do mundo islâmico contra presença de Bento XVI. O que representam? SM – Eu acho que 20 mil pessoas se manifestaram…Toda a gente é livre de se manifestar, se a manifestação for de uma forma cívica, eu não vejo nenhum mal. Dizer que houve só manifestações contra a visita do Papa, é injusto. Se a Turquia proibisse qualquer tipo de manifestações poderia estar a violar direitos democráticos.