Trás-os-Montes envelhece sem parar

Paróquias e Misericórdias de Murça e Alijó atentas à «sangria de gente nova» e ao aumento da pobreza

Murça, Vila Real, 13 Jan (Ecclesia) – Os párocos e provedores das Misericórdias dos dois concelhos nordestinos de Murça e Alijó estão preocupados com o futuro de uma região marcada pelo desemprego, pobreza e envelhecimento da população.

A “desertificação e a baixa taxa de natalidade” são consequência de uma “sangria de gente nova impossível de estancar” devido à dificuldade em “criar postos de trabalho que fixem a população”, sublinha o pároco de Murça, padre Sérgio Dinis, à Agência ECCLESIA.

A situação dos habitantes de idade avançada também constitui motivo de apreensão: “Apesar de nos últimos anos as Misericórdias e associações culturais terem investido em lares de idosos, continua a haver pessoas a viverem sós e a quem o apoio domiciliário não chega”, assinala o sacerdote, de 40 anos.

Para parte da população de idade avançada que está sozinha “o mais difícil de suportar é a noite”, relata o padre Sérgio, acrescentando que muitos idosos “não têm as melhores condições para poderem viver sós” devido às condições de saúde e à estrutura das casas onde residem.

As 102 vagas da Misericórdia de Murça, Distrito de Vila Real, estão ocupadas e “há mais de 150 pessoas em lista de espera”, acentua o pároco, que também se mostra inquieto pelas dificuldades financeiras enfrentadas por aquela instituição da Igreja Católica.

“Estamos no interior do país, onde a maioria das pessoas vive de reformas muito baixas porque descontou o mínimo para a Segurança Social”, e, por outro lado, “o património das Misericórdias é escasso e pouco rentável”, lamenta.

Em Murça, vila de Trás-os-Montes localizada a 450 km a nordeste de Lisboa, a Misericórdia dispõe de creche, “pelo menos três lares”, centro de dia, unidade de cuidados continuados e apoio domiciliário, com quase 500 refeições a serem servidas diariamente, valências subsidiadas quase em exclusivo pelo Estado.

Diante das dificuldades financeiras, o padre Sérgio Dinis salienta que é preciso envolver as famílias e os católicos na assistência à população envelhecida.

O pároco denuncia casos de “indiferença” com as pessoas de idade avançada, “mesmo da parte da família”, uma insensibilidade que aos olhos do sacerdote se torna mais dramática já que ele foi testemunha de um tempo em que as pessoas se preocupavam com as necessidades dos vizinhos.

“Estávamos habituados a ter as nossas aldeias cheias de gente. Quem vive neste meio pode agora trancar-se em casa, não olhar ao que se passa à sua volta e não tomar consciência de que agora as comunidades têm poucas pessoas”, assinala.

As paróquias e misericórdias de Murça e Alijó decidiram constituir uma equipa com o objectivo de “prevenir novos focos de pobreza”, ao mesmo tempo que “sensibilizam a comunidade para o problema dos idosos”.

“Não vamos criar a ideia de que esta região é uma mancha negra no país. Mas isso não nos pode deixar tranquilos nem parados”, refere o padre Sérgio Dinis, realçando que este grupo vai dar continuidade ao trabalho que tem vindo a ser realizado na área social.

Para o sacerdote, as dificuldades financeiras não vão ser um obstáculo ao trabalho da equipa: “Às vezes, com pouco dinheiro conseguem-se fazer muitas coisas. O que interessa é ser incisivo, começando por detectar as causas dos problemas que queremos combater”.

RM

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