Escolas transformadas em casernas, hospitais saqueados, Igrejas devastadas por bombas e mais de 200 mil pessoas obrigadas a abandonar suas casas para fugir dos combates. Este é o quadro dos combates na diocese de Butembo-Beni (Kivu, leste da República Democrática do Congo), segundo o relatório enviado à agência Fides, do Vaticano, pela Igreja local. Em Dezembro passado, os bispos católicos do país publicaram um comunicado para se manifestarem contra o que consideram ser um processo de “balcanização” do território. A Conferência Episcopal denunciava a presença de tropas ruandesas em território congolês e o regresso dos combates, que provocam a migração da população, criando assim uma nova e grave crise humanitária. O Ruanda invadiu a República Democrática do Congo em 1996 e entre 1998 e 2002, alegando sempre a presença naquele país de membros das antigas Forças Armadas Ruandesas e milicianos hutus, responsáveis pelo genocídio de 1994, que provocou a morte a 800 mil tutsis e hutus moderados. A República Democrática do Congo afirma-se como o palco da mais sangrenta guerra desde 1945 até hoje: mais de 3 milhões e 800 mil pessoas morreram na RDC nos últimos seis anos, por causa da guerra e da destruição que esta provoca. O relatório agora enviado pela diocese de Butembo-Beni descreve o saque sistemático do território diocesano. “Os postos de saúde receberam milhares de feridos e, em seguida, foram saqueados por soldados em fuga e por aqueles que os perseguiam”, assinala o documento. Algumas casas religiosas (o convento das Irmãs da Companhia de Maria de Kosando, o presbitério de Kosando e o de Kanyabayonga) foram transformados em quartéis dos militares do RCD Goma. Também as sedes de várias Organizações Não-Governamentais foram completamente saqueadas, bem como as casas dos habitantes da diocese, que perderam seus meios de sustento: lojas, moinhos, farmácias, fornos, depósitos de farinha, fazendas, campos. “A dignidade humana foi gravemente ferida por violações (mulheres e homens sem distinção de idade). Um menino de 8 meses foi fuzilado em Burambya. No início das hostilidades, a população civil estava sendo usada como escudo humano. Em síntese, os direitos humanos foram completamente pisados”, conclui o comunicado. A Confederação internacional da Cáritas já lançou uma campanha de ajuda às populações da República Democrática do Congo, cuja situação descreve como “dramática”. A “Caritas Internationalis” espera recolher 900 mil dólares para financiar um projecto de dois meses, destinado a realojar 8 mil e 500 famílias na área de Kanyabayonga e do norte do Kivu, marcadas pela pobreza extrema. A organização católica irá fornecer equipamentos domésticos, roupas e medicamentos, bem como apoio à recuperação da produção agrícola.