Tradição secular honra Nossa Senhora da Nazaré

Confraria de Nossa Senhora da Pederneira – Círio da Prata Grande é um movimento que engloba actualmente 17 freguesias

A freguesia de Mafra, no distrito de Lisboa, está a acolher a imagem de Nossa Senhora da Nazaré. O “Círio da Prata Grande”, como é apelidada esta iniciativa, é uma tradição que remonta ao século XVII, mas cujas raízes foram estabelecidas vários séculos antes, com o nascimento de uma grande devoção a Nossa Senhora da Nazaré.

Segundo dados veiculados pelo site da Confraria da Nossa Senhora da Nazaré (CNSN), este culto mariano, espalhado pela região do litoral oeste de Portugal, assume-se como um dos mais antigos do país, remontando pelo menos ao século XII.

Diz a lenda que a 14 de Setembro de 1182, o alcaide de Porto de Mós, D. Fuas Roupinho, andava a caçar nas suas terras junto ao litoral, quando viu um veado e começou a persegui-lo. De repente, levantou-se um nevoeiro muito denso, a partir do mar, enquanto que o veado escapava para junto de uma falésia.

O cavaleiro continuou a persegui-lo e só se deu conta de que estava à beira do precipício quando já era quase tarde demais. Então, lembrou-se que havia ali uma gruta onde se venerava uma imagem de Nossa Senhora com o Menino.

Assim, segunda a tradição religiosa, D. Fuas Roupinho rogou a Maria que ela o salvasse da morte, e o cavalo travou miraculosamente a sua marcha.

Esta lenda foi divulgada pela obra de Frei Bernardo de Brito, um monge cisterciense que, no seu livro “Monarquia Lusitânia” associa o culto medieval a Nossa Senhora da Nazaré com o milagre feito a D. Fuas Roupinho.

Segundo o mesmo autor, a imagem da gruta terá vindo de Nazaré da Galileia, desde os primórdios do cristianismo. Representa uma Virgem, sentada a amamentar o Menino Jesus.

No século V, durante o período dos movimentos iconoclastas, ela terá sido salva da destruição pelo monge grego Ciríaco, que a retirou da Galileia.

Depois de uma passagem pelo mosteiro de Cauliniana, perto de Mérida, o símbolo foi trazido para o litoral atlântico no ano de 711, por Frei Romano, depois das forças cristãs terem sido vencidas pelos muçulmanos.

A Virgem com o Menino foi instalada numa pequena gruta, em cima de um altar, onde mais tarde D. Fuas Roupinho mandaria construir a Capela da Memória, para que a imagem pudesse ser exposta à adoração dos fiéis.

Ao longo dos séculos esta devoção mariana foi crescendo, tendo o rei D. Fernando mandado construir um santuário em sua honra, em 1377, num local que seria sucessivamente reconstruído e aumentado, entre os séculos XVII e XIX, na região que ficou conhecida como Nazaré.

Ao longo dos séculos, têm sido organizadas várias festas e círios dedicados a Nossa Senhora da Nazaré, sobretudo a partir de diversas confrarias que se formaram.

Segundo a CNSN, o Círio da Prata Grande, um dos mais representativos do país, teve origem na paróquia de Igreja Nova, concelho de Mafra, “quando um morador do Penedo da Arrifana, João Manuel, já idoso, resolveu ir em romagem à Nazaré”.

Com o decorrer dos anos, esta peregrinação começou a ter cada vez mais participantes, não só da Igreja Nova como de outros pontos da região Oeste do país.

Em 1741, foi aprovada a Confraria de Nossa Senhora da Pederneira – Círio da Prata Grande, um movimento que engloba actualmente 17 freguesias, 13 do concelho de Mafra, 3 de Sintra e uma de Torres Vedras.

Cada freguesia que recebe a imagem fica responsável pela organização da peregrinação anual ao Santuário da Nazaré, antes de a entregar à Freguesia seguinte. Um compromisso que ficou consagrado por uma Provisão do Cardeal Patriarca D. Tomaz de Almeida.

Esta peregrinação recebe o nome de Círio, devido ao facto de se deixar no Santuário da Nazaré uma vela – um círio – que fica a arder até ao próximo ano.

O programa das festas em honra de Nossa Senhora da Nazaré, em Mafra, prolonga-se até dia 26 de Setembro.

No entanto, as celebrações não ficam por aqui, sobretudo ao nível litúrgico, já que ao longo deste ano serão muitos os momentos de oração que a comunidade local irá realizar, dedicados ao culto mariano.

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Agência ECCLESIA

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