Tradição do Folar resiste aos séculos

“Ainda há pouco me ofereceram um folar” – confessou o Pe. Manuel Alves à Agência ECCLESIA em relação à tradição dos folares na Semana Santa na zona de Valpaços (diocese de Vila Real). Está nesta paróquia há dezenas de anos mas vive com aquele povo as tradições ancestrais. A Feira do Folar de Valpaços realiza-se de hoje a Domingo de Ramos (7 a 9 de Abril) e já está “enraizada nesta gente” porque “o trigo que nós colhíamos era esplêndido e de primeira qualidade”. E recorda com sabor nostálgico: “ainda me lembro das malhadas feitas nesta região”. Na cidade de Valpaços existe ainda o Bairro das Lajes porque era aí que se faziam as malhadas. Nesse local, os homens com os seus malhos “esmagavam o trigo e o centeio”. Para além das searas, este concelho também é “muito rico nos produtos do fumeiro e na castanha”. Bens que dão nome à terra e a tornam mais conhecida. A Feira do Folar é um exemplo disso: “feito nas várias aldeias do concelho, o folar está exposto para venda aos milhares de visitantes que acorrem a esta localidade no fim de Semana dos Ramos” – avançou Sandra Araújo, elemento da Câmara Municipal de Valpaços. Uns compram-no na localidade mas “outros recebem-no em suas casas gratuitamente”. O Folar de Valpaços simboliza “a amizade entre as pessoas” e o “relacionamento entre os familiares”. Muitos dos habitantes que «fugiram» destas paragens para outras localidades recebem-no e “lembram-se das suas raízes” – descreveu o Pe. Manuel Alves. Como diz o povo «cada terra tem o seu uso e cada roca tem o seu fuso» e “nós aqui temos o folar que pode ser considerado um símbolo pascal”. O ovo – um dos elementos para a feitura do folar – “tem em si um conteúdo de vida que está dentro da casca. É o símbolo da Ressurreição de Cristo. O ovo parece que está morto mas tem vida e o folar sem ovo não é folar”” – relatou o pároco. Quando falta uma semana para da festa das festas dos cristãos, o Pe. Manuel Alves contou que as pessoas vivem “intensamente as cerimónias da Semana Santa”. Nas celebrações da Semana Santa “era impossível a realização desta feira” porque “temos sermões diários”. E avança: “se a semana santa morresse em Valpaços era como tirar o coração à vida espiritual deste povo”. Senhora da Roca Na Quinta-Feira e Sexta-Feira Santa realiza-se também uma procissão quaresmal em Valpaços. Levada no andor “transportado pelas senhoras”, a Senhora da Roca – uma “imagem que só tem mãos e cabeça” – sai às ruas da cidade “toda adornada”. Os homens têm a seu cargo o andor do Senhor dos Passos. Depois os andores encontram-se e “temos um sermão que muitas vezes faz chorar as pessoas” – disse a tia Aninhas. Receita do folar Peneira-se a farinha com um pouco de sal num alguidar e faz-se uma cova no meio. Desfaz-se o fermento de padeiro em 0,5 dl de água tépida, deita-se na cova da farinha e vai-se envolvendo nela. Colocam-se os ovos inteiros com a casca numa tigela e cobrem-se com água morna. Alguns minutos depois, abrem-se para dentro da farinha (sempre ao centro) e vai-se fazendo absorver a farinha trabalhando-a a partir do centro. Derreta as gorduras em lume brando. Junta-se à massa e trabalha-se tudo adicionando água necessária até obter uma massa fina. A seguir, bate-se a massa com as mãos até esta se desprender completamente do alguidar. A massa considera-se bem batida quando aparecem uma bolhas à superfície. Nesta altura polvilha-se a massa com um pouco de farinha, cobre-se com um pano e envolve-se o alguidar com um cobertor. Coloca-se num local tépido e onde possa receber um pouco de calor indirecto. A massa leva 2 horas a levedar. Está levedada quando atingir o dobro e apresentar um aspecto rendado. Tem-se um tabuleiro rectangular, cujos bordos não devem exceder 8 cm de altura, muito bem untado com banha. Cortam-se o chouriço e o salpicão às rodelas, o presunto às tiras e desossa-se o frango limpando-o de peles e ossos e desfazendo-o em febras. Divide-se a massa em três partes, devendo uma delas ser um pouco maior. Estende-se esta parte maior e forram-se com ela o fundo e os lados do tabuleiro. Espalha-se por cima metade da porção das carnes e salsa e cobre-se com a segunda parte das massa, sobre a qual dispõem as restantes carnes. Finalmente, tapa-se o folar com a terceira parte da massa e unem-se os bordos a esta camada final. Deixa-se levedar novamente o folar até aparecerem bolhinhas a superfície. Nesta altura, pincela-se com gema de ovo e leva-se a cozer em forno bem quente durante cerca de 45 minutos.

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