Trabalho: «Precariedade laboral premeia incompetência na gestão» – Professor Paulo Granjo

Mobilização social, qualificação, investimento são caminhos para combater a precariedade laboral que esteve em análise na última conferência «Nova Ágora», organizada pela arquidiocese de Braga

Braga, 20 mar 2021 (Ecclesia) – O professor universitário Paulo Granjo, doutorado em Antropologia Social, criticou a precariedade laboral que apresentou como um “premiar a incompetência de gestão”.

“O prémio à incompetência é dado através de dinheiros públicos e os custos atuais do lay-off, comparado com esta despesa quase permanente, é insignificante”, comparou durante a sua participação no debate «Nova Ágora», organizado pela arquidiocese de Braga, dedicado a «Novas explorações laborais», que ontem encerrou o ciclo de 2021.

O professor evidenciou ainda a “precariedade sistémica instalada na investigação científica” como um “modelo esgotado que se tornou um travão e um colete de forças ao potencial cientifico nacional e à evolução dos cientistas para o desenvolvimento do país”.

Paulo Granjo falou em décadas de dificuldades de contratações não precárias que direcionam “os trabalhadores e as instituições para o imediato e para o curto prazo, com menor investimento do sucesso”, com “prejuízo para as instituições e os seus quadros”, limitados no “desenvolvimento de programas de pesquisa, capazes de trazer algo de novo, que possa contribuir de forma significativa para o país”.

“Se queremos realizar uma aposta estratégica nacional na ciência como fator multiplicador de desenvolvimento integral, o sistema que temos está esgotado. E as alternativas de politica laboral e cientifica terão de ser outras”, enfatizou.

O professor universitário pediu “um sistema justo, potenciador e fixador”, que crie condições de estabilidade para “pesquisas a longo prazo” e uma “aposta financeira em meios humanos e de investimento”, pois, frisou, “o investimento tem um benefício para toda a sociedade”.

A ministra do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social pediu uma “mobilização social” que envolva todos no combate à precariedade laboral, que valorize o lugar dos jovens, das mulheres e das pessoas com deficiência no mercado.

“Durante a crise pandémica ficou evidente que tivemos um Estado Social que funcionou na dimensão de saúde, dos desafios sanitária, na educação e na dimensão social; ajudámos dois milhões e 800 mil pessoas, mas a crise mostrou que as pessoas têm de fazer parte do sistema. É fundamental reforçar Segurança Social, que esteja cada vez mais inclusiva e adaptada aos novos desafios”, avaliou Ana Mendes Godinho.

A ministra evidenciou a importância de se apostar no nível das qualificações, referindo um “elevador do talento das pessoas, que serão mais valiosas e melhor pagas”.

A responsável preconizou uma agenda para o trabalho digno, falando de um “compromisso social para o emprego sustentável”, para a contratação permanente, com uma “discriminação positiva para jovens, mulheres e pessoas com deficiência”.

A reflexão da ministra apontou ainda a necessidade de “um melhor enquadramento para as novas formas de futuro no trabalho, que concilie a família e o emprego”, que seja “mais inclusiva no sistema social, combata os contatos precários”, que possa “fazer uma prevenção de abuso na multiplicação de contratos a prazo”, com o necessário reforço da capacidade legislação e de intervenção.

Ana Mendes Godinho afirmou que o mercado necessita de “diálogo social e de uma participação ativa dos trabalhadores nas organizações”, quer seja “ao nível mais micro como ao nível mais macro, alargando as formas de diálogo”.

“Este é um momento que convoca a agir. Temos uma legitimidade social para acelerar mudanças que têm de ser assumidas socialmente se querermos contrariar esta tendência e se queremos valorizar os jovens no mercado de trabalho que são os mais afetados por esta contratação”, sublinhou.

O debate contou ainda com a reflexão de Paulo Marques, economista e Professor Auxiliar do Departamento de Economia Política do ISCTE, afirmou um “enfraquecimento dos atores colectivos” e “transformações estruturais nas economias que desestruturaram as bases estáveis no mercado de trabalho”.

“Esta realidade tem um impacto na proteção social e a pandemia tornou isto claro”, reconheceu.

O debate, indicou, deve passar de uma caracterização do problema para encontrar soluções para esse problema, pois “já todos percebemos que ele existe”.

LS

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