Trabalho: Papa critica sociedade «escrava da cultura do descarte»

Francisco pede proteção para as mulheres, destacando que «compaixão e ternura são atitudes que refletem o estilo de Deus»

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano. 09 mar 2023 (Ecclesia) – O Papa disse hoje no Vaticano que, “sem proteção”, a sociedade “se torna cada vez mais escrava da cultura do descarte”, alertando para o fardo “colocado nos ombros das famílias”.

“Sem proteção, a sociedade torna-se cada vez mais escrava da cultura do descarte. Ela acaba cedendo à visão utilitária da pessoa, em vez de reconhecer sua dignidade. A terrível lógica que difunde o descarte é resumida na frase: ‘Vale se produz’. É terrível”, disse Francisco, na audiência ao Instituto de Seguro contra Acidentes de Trabalho italiano.

O Papa acrescentou que a pessoa “vale se produz, se não produzir não vale nada” e, desta forma, só os que “conseguem permanecer na engrenagem da atividade contam”, as vítimas são colocadas de lado, “consideradas um peso e confiadas ao bom coração das famílias”, e explicou aos diretores e funcionários do Instituto Nacional de Seguro contra Acidentes de Trabalho (‘Inail’, na sigla em italiano) que a sua atividade é necessária para evitar acidentes, mas também para acompanhar os feridos e dar apoio às suas famílias.

O Papa alertou também para o crescimento dos acidentes de trabalho das mulheres e não se ter alcançado “a sua proteção plena”, afirmando que “há um descarte prévio das mulheres”.

“Por medo que elas engravidem, uma mulher é menos segura porque pode engravidar. Isto é pensado para a admissão e quando ela começa a ganhar peso, se pode mandá-la embora é melhor. Esta é a mentalidade e devemos lutar contra isso”, desenvolveu.

Francisco salientou que a vida e a saúde não têm preço, não podem ser trocadas por “alguns soldos a mais ou pelo interesse individual de alguém”, e referiu que a cultura do descarte leva à tendência de culpar as vítimas, “é um sinal da pobreza humana”.

Corremos o risco de fazer declinar as relações, se perdermos a hierarquia correta de valores, que tem a dignidade da pessoa humana no topo: O trabalho é degradado, a democracia é empobrecida e os laços sociais são diminuídos”.

O Papa destacou também a importância da tecnologia, uma boa solução para o trabalho à distância, mas que não deve isolar “os trabalhadores, impedindo-os de se sentirem parte de uma comunidade”.

Foto: Vatican Media

Aos diretores e funcionários do Instituto de Seguro contra Acidentes de Trabalho de Itália, Francisco indicou ainda o estilo do Bom Samaritano para quem precisa de ajuda e corre o risco de ser abandonado, os verbos desta parábola do Evangelho: “Ver, ter compaixão, estar perto, enfaixar as feridas, tomar conta”.

Ver, acrescentou o Papa, significa olhar para pessoas, que são únicas, não são números, têm rosto e nome, “não é um acidentado”, a civilização “caiu um pouco no uso excessivo de adjetivos”, com “o risco de perder a cultura do substantivo”.

“Encorajo-vos a olhar face a face todas as formas de inabilidade que se apresentam. Não só as físicas, mas também as psicológicas, culturais e espirituais. O abandono social tem repercussões na maneira como cada um de nós olha e percebe a nós mesmos”, acrescentou.

O Papa afirmou que a compaixão “não é uma coisa estúpida de mulheres, de velhinhas, é uma coisa humana muito grande”, contrária a “uma cultura da indiferença”, salientando que “o estilo de Deus” é “proximidade, misericórdia compassiva e ternura”.

CB

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Agência ECCLESIA

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