Trabalho: Igreja sofre de «falta de presença» na sociedade, diz antigo assistente nacional da Liga Operária Católica

Padre Jardim Gonçalves acredita que os 75 anos do movimento podem ser sinal de esperança para a renovação de uma dinâmica de «apostolado»

Lisboa, 25 nov 2011 (Ecclesia) – O padre Jardim Gonçalves, assistente nacional da Liga Operária Católica – Movimento dos Trabalhadores Cristãos (LOC-MTC) entre 1960 e 1974, considera que a Igreja se ressente hoje de uma “falta de presença” na sociedade.

Em entrevista à ECCLESIA, no âmbito da comemoração dos 75 anos daquele organismo, o sacerdote lamenta que a “riqueza” que caracterizou a ação dos leigos e operários católicos, sobretudo na defesa dos direitos sociais durante o Estado Novo, se tenha desvanecido um pouco durante a passagem para a democracia.

“As pessoas tinham sido preparadas para marcar uma presença na vida social, económica, política, cultural. Abriram-se as portas e cada um foi para o seu lado”, recorda, salientando no entanto que a vitalidade atualmente demonstrada pela LOC-MTC constitui um sinal de esperança.

Para reforçar este pensamento, recuou até ao início da celebração dos 75 anos do movimento, onde “tanta gente” marcou presença.

“Aquilo que realmente me tocou profundamente é que havia tanta possibilidade para começar a reorganizar o apostolado. Temos os movimentos eclesiais, agora parece-me que há aqui uma lacuna”, aponta o antigo diretor do gabinete do cardeal-patriarca de Lisboa.

Para o padre Jardim Gonçalves, a solução não passa por retomar os moldes da Ação Católica, que teve o seu tempo e “tal como está, morreu”.

Passa pela renovação de uma dinâmica de testemunho que permitiu à Igreja Católica “afirmar a sua posição” diante dos acontecimentos que foram marcando a sociedade portuguesa nas décadas anteriores ao 25 de Abril.

Mais de 50 anos depois do seu primeiro contacto com o mundo dos trabalhadores cristãos, através da Juventude Agrária Católica (JAC) e da Juventude Operária Católica (JOC), o sacerdote madeirense mostra-se “muito grato” por tudo aquilo que aquele meio lhe trouxe.

“Foi através da JAC e da JOC que descobri o mundo e fiquei a saber que a sociedade não era bem aquilo que nos diziam ser como expressão de comunhão e solidariedade”, realça.

O padre Jardim Gonçalves começou a trabalhar com o ramo feminino da JOC e com a secção masculina da Liga Operária Católica (LOC), a partir de 1960, e cinco anos depois passou a dedicar-se aos movimentos dos trabalhadores adultos.

De entre os principais momentos que viveu, destaca a fase em que o movimento operário passou de uma lógica de “atenção social” para a “transmissão da mensagem cristã”, uma transição baseada nos apelos do Concílio Vaticano II (1962-1965), que incentivou os leigos a uma ação mais evangelizadora.

Segundo aquele responsável, “houve gente que partiu” com esta mudança, que implicou coisas que custaram a “entrar” até dentro da dinâmica “da própria Igreja”, como a “revisão de vida”.

No entanto, “a pouco e pouco” e mesmo com “dificuldade”, a passagem do social ao apostólico concretizou-se, a partir da década de 1970, o que ajudou a LOC-MTC a ir avançando no seu sentido de compromisso no mundo laboral e de fazer com que os trabalhadores fossem mais reconhecidos na sua dignidade.

PTE/JCP 

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