Celebramos neste mês de Outubro o Jubileu do Pontificado de João Paulo II. Incontáveis são, por todo o mundo católico, as comemorações, as homenagens, as celebrações de acção de graças e de louvor a Deus pelas maravilhas que tem realizado neste homem, cujo sentido de missão, cujo carisma, cujo ministério petrino, desenvolvido com um profundo sentido profético, sem dúvida que tem marcado a trajectória da evolução histórica nestes últimos tempos, de um modo cujo alcance já se pressente, mas cuja profundidade só o tempo o dirá. Mas é evidente que, também pela sua intervenção carismática no cumprimento do seu ministério petrino, já na compreensão da própria Igeja, já na próprio evoluir da história ao longo do seu pontificado, nada fica igual como dantes, pois, permanecendo, embora, no fundo o mesmo, porque a realidade das coisas no íntimo mais recôndito do seu ser não se altera, a sua compreensão e a sua vivência é diferente. Este longo pontificado representa um marco fundamental na história da Igreja e na história do mundo. Onde está a força que move o Santo Padre, e que lhe imprime este cunho tão peculiar, de alguém que enfrenta as leis do tempo, que fiel a si mesmo, permanece de pé até ao fim, porque também dele, e com muito mais razão, pode dizer-se que as ‘árvores morrem de pé’, oferendo a todos nós este admirável testemunho de viver até ao fim em dignidade e heroicamente tudo o que a vida traz, mesmo no sofrimento e na doença?!… Donde lhe vem esta força? Não posso deixar de reconhecer, e penso que todos estarão de acordo comigo, que lhe vem da sua tão tocante relação com Nossa Senhora, de quem é todo, – ‘Totus tuus! – porque ela, como se escuta em Fátima, é para ele o seu refúgio e o caminho que o conduz a Deus. Esta é, na verdade, uma das notas mais significativas do Pontificado de João Paulo II, que caracteriza a sua espiritualidade e estrutura o seu pensamento, essa inconfundível nota mariológica, bem expressa na proclamação Totus Tuus, que surge como mote e como emblema de toda a sua vida. A devoção mariana é, na verdade, uma das características da espiritualidade de João Paulo II, e que ele imprime em tudo o que diz e escreve, de tal modo que pode dizer-se que nele se torna realidade aquela afirmação, que remonta a S. Bernardo, segundo a qual nunca é demais falar de Maria: ‘De Maria nunquam satis’. À primeira vista esta expressão poderia sugerir um excesso na determinação e no reconhecimento do papel da Virgem Maria na história da salvação, que poderia subalternizar o lugar de Jesus Cristo. Na verdade, porém, não é assim. Foi Balthasar quem no séc. XX chamou a atenção para a natureza sinfónica da verdade e da teologia em geral. Ora um dos lugares mais sensíveis do qual depende em grande parte a harmonia sinfónica do conjunto é precisamente a mariologia, porque, sendo aquela que concebe no seu seio o Verbo da Vida e o dá à luz, da contemplação do seu lugar na história da salvação aprende-se a considerar a harmonia sinfónica do conjunto e cada qual, quase sem se dar conta, descobre serenamente o seu lugar. Evocando uma das expressões mais significativas de João Paulo II, é na escola de Maria que aprendem os crentes a ocuparem o seu devido lugar na Igreja; é na escola de Maria que se aprende a olhar de um modo claro e equilibrado todo o conjunto do mistério de cristão. E porquê? Porque estar com Maria é deixar-se conduzir a Cristo que nos leva ao Pai; porque estar com Maria é estar com a Igreja, e assim a escola de Maria é o lugar por excelência da aprendizagem da condição de discípulos. Ora, olhando para trás estes 25 anos do Pontificado de João Paulo II, o que me impressiona é precisamente o sereno equilíbrio e constância do seu ministério, donde irradia uma profunda pacificação interior, de quem se sente tranquilo no regaço da Mãe, que é a Virgem Maria e que é a Igreja, onde ele procura ser e viver o amor, que é caridade, que é firmeza, que é coragem e que é perdão, e estando e vivendo no amor, tem tudo e está em paz. José Jacinto Ferreira de Farias, scj joseffarias@netcabo.pt