Torga era um poeta místico e interrogativo

O carácter místico da obra literária e a vertente interrogativa de toda a vida do poeta foram duas conclusões do colóquio “Tolerância/Cultura/Identidade em Miguel Torga”, organizado pela “Cenáculo” – Revista dos alunos da Faculdade de Teologia e pela Vigararia Episcopal para a Cultura e Diálogo, na Faculdade de Teologia da UCP-Braga. «Miguel Torga não sai incólume deste colóquio» afirmou o Vigário Episcopal para a Cultura e o Diálogo, Pe. Costa Santos, na abertura da mesa redonda alusiva à vida e obra do escritor português, falecido há 12 anos. O Auditório de S. Tomás de Aquino encheu-se de alunos, professores e interessados em Miguel Torga. Entre eles, o Arcebispo Emérito de Braga, D. Eurico Dias Nogueira, o presidente da Comissão Instaladora do Centro Regional de Braga, cónego Pio Alves de Sousa e o Director Adjunto da Faculdade de Teologia de Braga, João Duque. Castro Gil, professor jubilado da UCP, afirmou que «Torga é um misto entre Prometeu e Hermes», uma vez que o poeta «tenta firmar-se na terra». «É um erotemático», disse. Toda a vida de Torga consistiu em fazer perguntas no entanto, custava-lhe aceitar as respostas, afirmou o professor. Ao ler alguns poemas de Torga e outros poemas da sua autoria, Castro Gil, que se encontrou algumas vezes com o escritor português, afirmou que o poeta transmontano encetou o seu caminho sem nunca deixar de olhar para o céu estrelado. «Torga é um “Prometeu” que não esquece a sua origem», concluiu o cónego bracarense. O presidente da Câmara de Terras de Bouro, António Afonso, por sua vez, referiu-se à temática da divindade na vida e obra do escritor nascido em Sabrosa. «A divindade é uma obsessão na obra de Miguel Torga», afirmou o edil que preferiria referir-se às andanças torguianas no Minho, especialmente, no Gerês. Para o autarca, Deus está sempre presente na vida de Torga e são muitas as expressões e referências bíblicas no seu espólio escrito. Títulos de poemas e de livros sobre Bíblia, sobre Deus, sobre a Igreja, sobre santos são uma constante, defendeu, exemplificando que, sobre a natividade, Torga tem mais de 20 poemas assinados. Torga era crente ou não crente? Esta é a questão que os estudiosos colocam ainda hoje. Antigo seminarista, nascido no seio de uma família católica, Torga declarou-se «herético até ao fim» e apresentou o «desespero agnóstico». No entanto, «a cultura religiosa ficou para toda a vida» e apesar de muitos autores considerarem o seu ateísmo ou agnosticismo, «Torga não está irremediavelmente perdido» e «não sendo crente é um místico», declarou o autarca, citando alguns autores contemporâneos. O Pe. Mário Esteves referindo-se a um encontro que teve com o escritor transmontano disse que «Torga era um homem crente que andava sempre à procura». Aos presentes que encheram o Auditório S. Tomás de Aquino, asseverou que «Torga é um insaciável e o seu grande problema nunca foi a fé mas a religiosidade». Desse modo, o discurso essencial de Torga é a teologia e a grande questão da sua vida foi Deus, disse Mário Esteves. Sobre o encontro que teve com Miguel Torga, o padre referiu um desabafo do poeta: «Nada se escreveu de essencial sobre mim». Poemas musicados por Joaquim Santos Antes da mesa redonda, o Coro de Lama, de Barcelos, executou poemas de Miguel Torga (“Sagres”, “Largada”, “Achado”) musicados pelo sacerdote bracarense, Joaquim Santos. Alguns alunos da Escola EB 2,3 de Celeirós fizeram a representação teatral “Quem é Torga?” e, também, “Mãe e Regresso”. Nas instalações da Faculdade de Teologia esteve também patente uma exposição sobre a vida e obra de Torga. Com Diário do Minho

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