Timor: O Natal de um país pobre

Frei Manuel Rito, missionário Capuchinho

Cheguei de Timor-Leste apenas há 15 dias. Nenhum sinal de Natal havia ainda nas ruas, lojas e lugares públicos de Díli, a capital. Apenas as paróquias se movimentavam ligeiramente na preparação do 1.º domingo de Advento.

Num país pobre e de grande vivência cristã falam mais alto e mais forte os símbolos da fé ligados ao Natal dos Evangelhos.

Nos países ocidentais, os mitos camuflaram a história, as lendas substituíram o mistério e a Criança que se oferece à humanidade deu lugar ao culto do consumo e de uma fraternidade universal mais cosmética do que fraterna.

Num país pobre, o Pai Natal não pode ser muito rico. As empresas comerciais estão na mão dos indonésios, sem tradições natalícias, e a reduzida capacidade elétrica não permite grandes publicidades ou decorações luminosas.

Timor-Leste mantém-se fiel à tradição cristã, expressa nas celebrações litúrgicas e no presépio popular.

Em contraste com os apelativos consumistas do ocidente de estrelas nas praças e de montras repletas, a grande atração pública e competitiva deste país oriental é a apresentação de presépios nas ruas em todas cidades e aldeias. O presépio é o grande sinal que distingue e marca nos timorenses este tempo de Natal. Em todos os bairros, em todas as ruas de pequenas ou grandes localidades, mesmo em plena estrada distante e isolada, os jovens montam a estrutura do presépio tão sólida que fica de uns anos para outros, decorando-a com figuras do artesanato local e mesmo com montagem elétrica, prevendo que a luz elétrica possa talvez um dia passar por ali.

É nestes sinais, simples, tradicionais e de sentido cristão que se resumem os valores do Natal timorense, já que em ceias de Natal, consoadas de bacalhaus e perus também pouco participam, limitando-se ao arroz de todos os dias, enriquecido nesta quadra com pequenos ingredientes vegetais ao qual dão o nome de “ketupa” e algumas pequenas iguarias caseiras, “sagu” e “kué rambu”.

Em Timor-Leste o Natal ainda é uma Criança, não um Velho (pai natal); a consoada é mais pobre, mas mais fraternal; a árvore está menos iluminada, mas projeta mais luz; o presépio tem menos arte e menos enfeites, mas tem mais história e teologia.

Frei Manuel Rito, missionário Capuchinho

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Agência ECCLESIA

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