Timor-Leste: «Precariedade da paz é problema complexo»

D. Ximenes Belo considerou ontem que a precariedade da paz em Timor-Leste «é um problema complexo». «É importante haver uma boa gestão dos recursos para a consolidar», disse o Prémio Nobel da Paz 1996, para quem o novo país «está a fazer a sua aprendizagem como nação independente». «Tem apenas seis anos, o que é pouco tempo», frisou o prelado. Disse também que Timor-Leste «está a adquirir experiência como país» e sustentou que «a paz também significa desenvolvimento». «Para isso é preciso que os recursos sejam geridos de forma a contemplar as classes mais desfavorecidas», frisou. D. Ximenes Belo, ontem homenageado por iniciativa da Escola Profissional de Aveiro, participou numa conferência promovida por aquele estabelecimento de ensino, juntamente com Faranaz Keshavjee, da Fundação Agha Khan, e de Joshua Ruah, ex-presidente da Comunidade Judaica de Portugal. D. Ximenes Belo atribuiu grande importância ao diálogo ecuménico e ao papel das religiões na construção da paz, ao participar naquele encontro de diálogo inter-religioso. «Enquanto não se resolver a guerra entre religiões não haverá paz», disse D. Ximenes Belo, sustentando que «as religiões podem ajudar os povos a viver em tolerância». Segundo defendeu, «o diálogo inter-religioso é sempre importante para abrir os corações, pois é com abertura a outras culturas que é possível entrar em diálogo, para trabalhar pela paz e pela justiça». «A paz depende dos Estados, dos governos, mas também de cada um», disse o prelado. A visita do Papa aos Estados Unidos foi também comentada por D. Ximenes Belo, que disse tratar-se de «uma visita pastoral para avivar a fé dos norte-americanos». «Espero que contribua para a paz internacional», disse. Confrontado com o facto do número de muçulmanos ultrapassar já o dos católicos, o Bispo Emérito de Díli atribuiu este facto a vários factores, nomeadamente demográficos. «Deve-se à limitação da natalidade no Ocidente e também à falta de educação religiosa », acentuou. Faranaz Keshavjee, da Fundação Agha Khan, considerou que «é necessário avançar para projectos conjuntos tendo por base a ética comum». «Tem-se organizado vários eventos para o diálogo inter-religioso mas poucos ou nenhuns passos na prática», disse. Joshua Ruah, ex-presidente da Comunidade Judaica de Portugal, defendeu que «os agnósticos não podem ser excluídos » da base ética comum a que alude Faranaz. «É no plano ético que tem de haver entendimento, para um patamar acima dos credos, o credo da Humanidade », acrescentou. Sustentou ainda que «as religiões são formas sociais de organização por princípios de fé e a Humanidade tem de se organizar por princípios éticos, que respeitem a pessoa humana». «As religiões têm o papel pedagógico de ensinar aos seus crentes que o outro tem de ser respeitado com as suas diferenças », sublinhou Ruah.

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