Jornalista da Renascença, que acompanhou nascimento do país, analisa importância da presença do Papa no território
Lisboa, 10 set 2024 (Ecclesia) – A jornalista da Renascença Anabela Góis afirmou em entrevista à Agência ECCLESIA que a Igreja Católica teve um “papel essencial” na resistência do povo de Timor-Leste, cujo território foi invadido pela Indonésia em 1975.
“Foi a fé que uniu aquele povo, e que lhe permitiu resistir durante tanto tempo ao invasor, que não tinha nem a força nem os meios para resistir a um gigante como a Indonésia. E o facto é que conseguiu e conseguiu graças à fé e ao apoio da Igreja Católica também”, afirmou a jornalista no programa ECCLESIA emitido esta terça-feira, na RTP2.
Anabela Góis reconhece que as instituições ligadas à Igreja Católica “tiveram muita importância” na resistência de Timor-Leste, uma vez que eram a “principal fonte de informação” dos jornalistas, permitindo contar o que se passava no território.
“Com os meios que tínhamos à nossa disposição, tentávamos contar o que se passava de uma forma imparcial. E eram os jornalistas que levavam a situação que se passava em Timor à opinião pública contra aquela que era a narrativa da altura da Indonésia, que dizia que Timor-Leste estava perfeitamente integrado e era a 27ª província do país”, relata.
Anabela Góis conta que, na altura, em Timor-Leste a informação acontecia um fenómeno que era a rapidez com que a informação era transmitida.
“Qualquer jornalista estrangeiro, qualquer pessoa que chegava de fora a Timor-Leste e parece que toda a ilha sabia e rapidamente tínhamos informações sobre o que se passava na zona mais distante daquele território e nós tínhamos informação sobre o que se estava lá a passar. E a Igreja Católica, estando em todo o território, era naturalmente também uma boa fonte de informação, uma fonte fidedigna”, referiu.
Comprovando a influência que a Igreja Católica teve na resistência do povo timorense, a jornalista da Renascença fala que, não havendo censos em 1975, o que se presume é que, na época havia 25% de católicos e os restantes seriam animistas, no entanto com o passar dos anos, o cenário mudou.
“A Igreja Católica conseguiu reunir muito mais pessoas e nesta altura será o país com maior percentagem de católicos a rondar os 98%. E a Igreja Católica era o apoio daquelas pessoas, da resistência e também fornecia muitos meios logísticos”, realça.
A jornalista da Renascença dá conta que o rádio transmissor que Xanana Gusmão, primeiro presidente do país, tinha no mato e que lhe permitia de vez em quando falar ao mundo e dizer o que se estava a passar enquanto líder da resistência, “foi levado por um alto dignitário da Igreja Católica”.
“Acho que não é inconfidência. Passados estes anos todos, acho que podemos dizer que, de facto, a Igreja também apoiou não só espiritualmente, mas também logisticamente a resistência timorense”, enfatizou.
Timor-Leste tornou-se independente a 20 de maio de 2002, após 25 anos de ocupação indonésia, e recebe até quarta-feira o Papa Francisco, na primeira visita de um pontífice desde a independência.
“Há muitos timorenses que nunca viram o Papa, ainda não eram nascidos. Temos que pensar que Timor é um dos países mais jovens do mundo. Não só em idade de independência, tem apenas 22 anos, mas também porque é um país que tem realmente muitos jovens. São pessoas muito novas e nota-se esta grande importância que é dada à presença do Papa Francisco pela mobilização que está a acontecer”, realça.
A jornalista considera que a Igreja Católica continua a ser uma referência e a ter muito poder para a população timorense: “Continua, de facto, a ter uma grande importância e basta ver afluência que há às missas e envia todos os eventos religiosos que acontecem em Timor-Leste”.
Anabela Góis foi uma das jornalistas da Renascença distinguida pelo Estado timorense, fruto do trabalho desenvolvido no acompanhamento do evoluir do processo negocial entre timorenses pró-indonésia e independentistas e por ter acompanhado no território o referendo de 30 de agosto de 1999 e as situações de violência que se seguiram.
Além disso seguiu as cerimónias da independência, tendo regressado a Díli após o atentado contra o presidente em exercício na altura, José Ramos Horta, que chegou a entrevistar na Austrália, ainda em convalescença, informa a Renascença.
Timor-Leste é uma das paragens da viagem mais longa do pontificado do Papa Francisco, iniciada a 2 de setembro, que inclui 44 horas e mais de 32 mil quilómetros de voo, e se encerra em Singapura, a 13 de setembro.
PR/LJ