Banho de multidão acompanhou percurso em papamóvel pelas ruas de Díli
Lisboa, 09 set 2024 (Ecclesia) – O Papa iniciou hoje a primeira visita de um pontífice desde a independência de Timor-Leste, acompanhada por centenas de milhares de pessoas.
Após um voo de quase três horas e meia, desde a Papua-Nova Guiné, Francisco e a sua comitiva chegaram ao aeroporto internacional de Díli pelas 14h20 locais (06h20 em Lisboa), sendo recebidos pelo presidente timorense, José Manuel Ramos-Horta, e pelo primeiro-ministro, Xanana Gusmão, bem como pelo Núncio Apostólico D. Wojciech Załuski.
Duas crianças em trajes tradicionais ofereceram flores a Francisco juntamente com um tais, um lenço tradicional timorense, ao som de gritos de “viva o Papa”, por parte dos presentes, muitos dos quais se tentaram aproximar para cumprimentar o pontífice.
A deslocação até à Nunciatura Apostólica decorreu a bordo do papamóvel, num percurso acompanhado por dezenas de milhares de pessoas nas ruas de Díli, com muitas bandeiras de Timor-Leste e do Vaticano, além de cartazes de boas-vindas, no primeiro banho de multidão da visita.
O Governo de Timor-Leste convidou “toda a população a participar ativamente nas celebrações e a acompanhar as passagens de Sua Santidade pelas ruas de Díli”.
“Este é um momento histórico para o nosso país, e a presença calorosa e entusiástica de todos é fundamental para demonstrar o nosso carinho e hospitalidade ao Santo Padre”, assinala uma nota do Executivo, que concedeu tolerância de ponto entre os dias 9 e 11 de setembro.
Já o presidente timorense, Ramos-Horta, assinalou em comunicado queo Papa “traz uma mensagem de paz, reconciliação, fraternidade humana e esperança, tão necessária num mundo cada vez mais conturbado em que os corações frios substituíram o diálogo e a paz”.
Pelas 18h00 locais (10h00 em Lisboa), o Papa vai dirigir-se ao Palácio Presidencial para a cerimônia de boas-vindas, visita de cortesia ao presidente Ramos-Horta e o encontro com autoridades políticas e representantes da sociedade civil, às 19h00, quando profere o primeiro discurso da visita.
35 anos depois da passagem de João Paulo II por Timor-Leste, em outubro de 1989, ainda durante a ocupação indonésia, Francisco vai estar 45 horas em Díli, para encontros com responsáveis políticos, crianças, jovens e membros da comunidade católica, até à manhã de quarta-feira.
O arcebispo de Díli, D. Virgílio do Carmo da Silva, diz que este é “um momento histórico”.
“É uma festa do povo, uma festa da Igreja, uma festa da fé”, assinala o primeiro cardeal timorense, em entrevista à Renascença.
Estima-se que mais de 500 mil pessoas acompanhem a visita do Papa na capital timorense.
“É um momento para acordar mais a Igreja local, e os cristãos, um incentivo para que aprofundem a sua fé”, indica D. Virgílio do Carmo da Silva.
O cardeal sublinha o “entusiasmo” com que o povo timorense aguarda o Papa, dando o exemplo do “enclave de Oecusse”.
“O primeiro grupo já chegou a Díli. Vieram de barco, sendo que os barcos são limitados. Para transportarmos mais de dois mil fiéis, tivemos de começar quatro ou cinco dias antes…para consegue levar todos os fiéis. Vieram pra Díli, ficam instalados em tendas. Estão contentes, o ambiente é de alegria à espera da vinda do Santo Padre”, relata.
O arcebispo de Díli adianta a intenção de “agradecer ao Papa a coragem de vir até Timor com esta idade” [87 anos].
D. Virgílio do Carmo da Silva recorda ainda a visita de João Paulo II, “quando os timorenses viviam uma situação de guerra e de perseguição”.
A celebração central da viagem vai decorrer no dia 10 de setembro, em Tasi Tolu, o mesmo local que acolheu o Papa polaco.
A Eucaristia presidida por Francisco conta com orações em português, tétum e outras seis línguas locais.
“Pelo nosso país: para que, vivendo com alegria a fé na nossa cultura, possamos construir uma sociedade baseada na justiça e na fraternidade”, pede uma das orações, divulgadas no Missal da visita apostólica.
Além da Missa, o programa de 10 de setembro inclui uma visita a crianças com deficiência, na Escola ‘Irmãs ALMA’ (Asosiasi Lembaga Misionari Awam, Associação das Sociedades Missionárias Leigas), e um encontro com membros da comunidade católica, na Catedral da Imaculada Conceição.
A 11 de setembro, Francisco encontra-se com jovens timorenses no Centro de Convenções, antes da cerimónia de despedida no aeroporto internacional de Díli, rumo a Singapura.
A viagem mais longa do pontificado, iniciada a 2 de setembro, inclui 44 horas e mais de 32 mil quilómetros de voo, entre Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura, onde a 45ª visita apostólica do Papa se encerra, a 13 de setembro.
O lema da visita a Timor, ‘Que a vossa fé seja a vossa cultura’, é apresentado como “exortação e encorajamento para se viver a fé de harmonia com a cultura, segundo as tradições do povo timorense”.
Timor-Leste, com mais de 95% de católicos na sua população, é um dos únicos países asiáticos onde a Igreja Católica é maioritária, juntamente com as Filipinas; a Igreja timorense tem três dioceses: Díli, Baucau e Maliana.
Em 2019, o Papa decidiu criar a província eclesiástica de Díli, em Timor-Leste, nomeando D. Virgílio do Carmo da Silva como primeiro arcebispo metropolita do território.
Bento XVI tinha determinado a criação da Diocese de Maliana, no início de 2010, e a instituição da Conferência Episcopal Timorense, em 2011.
OC
Notícia atualizada às 06h50
Na Missa que presidiu em Díli, a 12 de outubro de 1989, João Paulo II evocou as “dificuldades e sofrimentos das famílias, de Timor Oriental e Ocidental”, rezando em Tétum por “todos os que têm responsabilidade pela vida em Timor-Leste”, em favor de “uma resolução justa e pacífica para as dificuldades”.
Em janeiro de 1992, meses após o Massacre de Santa Cruz, em Timor-Leste, o Papa polaco recordou a “tensão persistente” na região, em discurso dirigido aos membros do corpo diplomático. Em 1995 e 1996, João Paulo II voltaria a alertar para a “difícil situação” de Timor-Leste, ao receber embaixadores da Indonésia junto da Santa Sé, pedindo medidas “adequadas para garantir o respeito dos direitos humanos, a proteção e a promoção dos valores culturais e religiosos da população”. |