Tibete: A sombra de Tiananmen

O que no dia 10 de Março aconteceu no Tibete já há muito se anunciava. Por um lado, aos líderes tibetanos que amam a identidade e a liberdade do seu país, não lhes resta senão aproveitar ocasiões para chamar a atenção da opinião pública mundial para a sua causa. A proximidade dos jogos olímpicos na China, em Agosto, oferece a oportunidade de ouro para trazer, mais uma vez, a situação do Tibete para a cena mundial. Por outro lado, a China, como sempre tem feito, antecipa-se às oportunidades e reprime com violência implacável, todas as formas de dissenção social e política. Desta vez, para o fazer com presumida legitimidade política, acusa os activistas de serem manipulados e rejeita as criticas de outros estados como intervenção indevida nos seus assuntos internos. As manifestações foram iniciadas pelos monges budistas. Eles desceram às ruas da capital Llasa para a comemorar as vítimas da repressão sangrenta de 1959, que culminou com a expulsão do Dalai Lama. Os militares chineses responderam com violência e os confrontos alastraram-se a outras localidades. A diáspora tibetana, na Índia, na Ásia e nos EUA, saiu também à rua. Os protestos pro-Tibete chegaram mesmo a Pequim, onde grupos de estudantes se reuniram para fazer memória das vítimas. O número destas ficou por apurar, com a oposição tibetana no exílio a falar de centenas de mortos e o governo de Pequim a admitir apenas 19 vítimas. Se o «aproveitamento» dos jogos olímpicos pelos activistas tibetanos era de esperar e a resposta Chinesa de prever, o que causou alguma admiração foi a reacção da comunidade internacional. Esta ficou-se pela expectativa, pela falta de acção política e diplomática e pelo silêncio. Nas Nações Unidas, o assunto não chegou ao Conselho de Segurança. Ban-ki-moon limitou-se a dirigir á China um apelo à moderação e a uma solução pacífica da questão do Tibete. A Comissão Europeia pediu contenção. O Comité Olímpico Internacional rejeitou a possibilidade de um boicote aos jogos olímpicos. Os líderes budistas agradeceram as palavras de Bento XVI que, na sua mensagem pascal, mencionou o sofrimento do povo Tibetano e pediu diálogo para a solução da crise. Os apelos ao diálogo e o olhar da comunidade internacional, poderão obrigar a China a uma resposta mais contida. Porém o diálogo com Pequim tem sido exercício de surdos porque o Império do Meio não muda os seus métodos. Para resolver a questão à sua maneira, e evitar o olhar da comunidade internacional, a China expulsou todos os jornalistas estrangeiros do Tibete. O que faz esperar o pior, ao fazer cair sobre Lhasa a memória negra da praça de Tiananmen (1989). Pe. Manuel Ferreira, Comboniano

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