Foi para mim uma bênção de Deus ter conhecido e ter privado de perto com Maria Amélia Carvalheira. Foi no já longínquo ano de 1980, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima que contactei pela primeira vez com Maria Amélia Car-valheira. Achei-a uma pessoa simpática, risonha e simples que de imediato me convidou para a visitar na sua casa na Av. João Crisóstomo. Tendo mostrando grande interesse pela sua obra, logo me convidou para fazer parte do grupo dos seus alunos nas aulas de cerâmica que ministrava às quartas-feiras na Centro Paroquial de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa. Por razões profissionais frequentei, na Paróquia, de Fátima somente três aulas. Dada a minha indisponibilidade para cumprir com o horário das aulas, logo me convidou a frequentar a sua casa aos serões. Durante vários meses visitei quase diariamente a sua casa, tendo-se transmitido o gosto pela sua arte e tendo-me ensinado muitos pormenores da moldagem e pinturas das imagens. Foi um privilégio ter assistido à criação de muitos dos seus últimos trabalhos. Recordo o XV Passo da Via-Sacra dos Valinhos, a Nossa Senhora de Setúbal, a Nossa Senhora Mãe de Deus para a Igreja da Buraca e a Fuga para o Egipto. Maria Amélia Carvalheira ao colocar as mãos no barro para moldar uma imagem permitia-nos adivinhar o gesto paradigmático de Deus Criador que meteu as mãos no barro humano para o moldar à sua imagem e semelhança. A obra de Maria Amélia Carvalheira permite-nos vislumbrar através da simbologia utilizada que, embora dependente de uma visão estética, através da beleza das formas, ultrapassa a própria forma, e, enquanto representativa, chama-nos à interioridade. Coloca-se em jogo a própria vivência espiritual da artista, na interpretação e perspectiva que ela nos apresentou e que quis partilhar connosco. Por isso, a obra de Maria Amélia Carvalheira apela-nos a uma atitude íntima de contemplação e até mesmo de oração, tendo a própria arte por mediadora. A escultura de Maria Amélia Car-valheira, através da simbologia usada, das formas simples, sem expressões carregadas ou forçadas, deixa-nos descobrir, por detrás da imagem, como por exemplo o S. João de Deus – Prémio de Escultura “Mestre Manuel Pereira em 1949 – que se ergue, a própria representação de Deus que a sustenta. O Deus a quem nunca ninguém viu o rosto, mas a quem todos conhecem gestos largos de Amor para com o Homem como nos transmite a obra de Maria Amélia Carvalheira. A Obra de Maria Amélia Carvalheira é um testemunho de profissionalismo e uma assinatura da sua Fé, uma Fé lúcida, simples e esclarecida que continuará hoje e sempre a manifestar-se nas imagens que criou e que poderá conduzir muitos outros a aproximarem-se de Deus, ou seja, a sua obra terá sempre uma acção evangelizadora através dos tempos. A sua bondade como pessoa e a nossa Fé permite-nos concluir, tal como o Santo Padre na beatificação de Fra Angélico: “quem faz coisas tão bonitas tem que estar no céu”. Obrigado “Tia Quinha”. José Cruz Paróquia de N.S.de Fátima – Lisboa