O polémico filme “The Passion of Christ” (A Paixão de Cristo) de Mel Gibson vai ser tema de um debate organizado pelo Vaticano, com o objectivo de pôr em diálogo as várias religiões monoteístas. A iniciativa foi anunciada na Universidade Pontifícia Lateranense, em Roma, mas ainda não tem um local nem data marcada. D. Piero Coda, consultor do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso e professor da Universidade Pontifícia Lateranense, limitou-se a anunciar que este centro de estudo, com o apoio da Santa Sé, tem a intenção de organizar uma “mesa redonda inter-disciplinar em diálogo com outras religiões” sobre o filme “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson. D. Coda, que falou durante a apresentação da celebração do Centenário do nascimento do teólogo alemão Karl Rahner, indicou que a mesa redonda será “um momento cultural” que ainda não tem data nem lugar definidos, mas que acontecerá assim que o filme estrear na Itália, durante o próximo mês de Abril. “Existe o desejo de compreender as oportunidades que o filme pode oferecer, e esclarecer, caso seja necessário, os possíveis mal-entendidos”, acrescentou. Por sua vez, o reitor da Lateranense, D. Rino Fisichella, que presidiu à conferência de imprensa, indicou que se encontra em “espera positiva” do filme que se tornou um sucesso de bilheteira histórico nos Estados Unidos. O filme arrecadou já 117,5 milhões de dólares, a segunda melhor arrecadação para um filme estreado a uma quarta-feira, ultrapassado apenas por “O Senhor dos Anéis”. “Há uma profunda necessidade de espiritualidade e a representação de um tema o da Paixão de Jesus pode corresponder a isso”, afirmou D. Fisichella. O reitor desta Universidade acredita que a reunião corresponde ao desejo que todos têm de tentar perceber em que ocasiões o filme pode provocar mal-entendidos e analisar a coerência entre os textos bíblicos sobre a paixão de Cristo e a coerência histórica. Antes da estreia do filme, que aconteceu na Quarta-feira de Cinzas, o presidente do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, D. John P. Foley, assegurou que o filme “The Passion” de Mel Gibson é um belíssimo relato dos Evangelhos e descartou a hipótese de fomentar o anti-semitismo. Em Portugal, a estreia do filme terá lugar a 11 de Março e a distribuição será feita pela Lusomundo. THE PASSION OF CHRIST O actor e realizador Mel Gibson começou a rodar o filme “The Passion of Christ”, que retrata as últimas 12 horas da vida de Jesus, em finais de 2002. A grande novidade deste filme é que será falado apenas em latim e aramaico. A obra, de três horas de duração, apresenta uma narração que segue à risca o texto dos Evangelhos, mas não será a incerteza do desfecho a prender os espectadores à cadeira, mas a intensidade (que roça mesmo a violência) das imagens e dos sons. Contando com actores como Jim Caviezel e Monica Belucci, este filme de Mel Gibson, vencedor do Oscar de melhor realizador em 1995 com “Braveheart”, pretende, segundo o próprio, “transcender as barreiras da linguagem com cenas que contem a história por si mesmas.” Mesmo antes de estar concluído, o filme suscitou forte polémica nos Estados Unidos por causa da reacção de organizações judaicas norte-americanas, que acusam Gibson de retomar a acusação “Judeus, povo deicida” formulada na oração de Sexta-feira Santa pré-Vaticano II. João Paulo II já viu a obra e, apesar de se ter especulado sobre a sua reacção, a Santa Sé desmentiu que o Papa tivesse feito qualquer comentário público.