Testemunho cristão em Moçambique

D. Diamantino Antunes, missionário da Consolata e bispo de Tete, em Moçambique

Sou missionário em Moçambique desde 1992. Cheguei como seminarista e agora sou bispo da diocese de Tete. Sempre missionário, ontem como hoje, em tantos e diferentes lugares. Desde a primeira hora me senti em casa, bem acolhido e inserido nesta Igreja local que tem grandes vínculos históricos e culturais com Portugal.

Quando cheguei, Moçambique tinha apenas 17 anos de nação independente e acabava de sair de uma profunda guerra civil que tinha feito muitas vítimas e produzido muito sofrimento.

Moçambique celebra para o ano 50 anos de independência, mas a paz ainda não é total e efetiva. A violência continua hoje, sobretudo na província de Cabo Delgado, e faz os seus mártires. A Igreja moçambicana é uma pátria de heróis, de mártires. Os mais conhecidos, em âmbito eclesial, são a Serva de Deus Luísa Mafu e companheiros – conhecidos como os ‘Mártires do Guiúa’ – e os Servos de Deus padre João de Deus Kamtedza e padre Sílvio Alves Moreira – os ‘Mártires de Chapotera’.

Os catequistas ‘Mártires do Guiúa’ era constituído por 24 moçambicanos, que foram mortos quando se encontravam no Centro Catequético do Guiúa, na diocese de Inhambane. O grupo participava num curso de formação de longa duração para famílias de catequistas. Morreram no dia 22 de março de 1992. Decorriam então os últimos meses de uma guerra fratricida que devastava Moçambique. O país tentava emergir de um longo período de conflito, de trevas e provações. Confiante de que as conversações em curso em Roma para alcançar a paz iriam pôr fim à guerra, a diocese de Inhambane decidiu reabrir o Centro Catequético do Guiúa para a formação de famílias de catequistas. Três dezenas de pessoas escolhidas em diferentes missões acabavam de chegar, quando na madrugada de 22 de março de 1992 um grupo de homens armados atacou o Centro Catequético e raptou a maior parte das famílias. Foram conduzidos à força para a base de onde vinham os invasores. Pelo caminho, o grupo de 24 catequistas e familiares foram brutalmente chacinados à baioneta. Testemunharam a sua fé com o sangue. Os seus corpos foram transportados e sepultados no Centro Catequético, no local onde está atualmente o Santuário Diocesano de Inhambane.

A missão dos catequistas mártires do Guiúa, abruptamente interrompida a 22 de março de 1992, continua viva. A sua memória e o seu exemplo ecoam ainda e sempre no silêncio da brisa eterna da colina do Guiúa.

Os Servos de Deus padre João de Deus Kamtedza e padre Sílvio Moreira, ‘Mártires de Chapotera’ – são imagem e exemplo de Jesus, o Bom Pastor que “dá a vida pelas suas ovelhas”. “Vale a pena dar a vida” foi a razão de vida e da morte de dois valorosos missionários jesuítas, em Angónia-Tete. Padre João de Deus Kamtedza era moçambicano e padre Sílvio Moreira era português. Viveram e morreram a dar a vida. Ambos sentiam como seus os sofrimentos e as esperanças do povo da Angónia, onde viviam como missionários. “Quem cala consente”. Eles manifestaram-se, a alto e bom som, e com o tom da paz, contra as injustiças, vinganças e arbitrariedades, em defesa do povo inocente.

A 30 de outubro de 1985 foram barbaramente assassinados, em Chapotera, entre a Missão de Lifidzi e a Missão de Chabwalo, na Angónia. Mártir significa testemunha. Os dois padres testemunharam corajosamente, em nome de Cristo, que a vida humana é sagrada, que o pobre e o fraco têm que ser defendidos, que a vingança arbitrária não pode ser lei, mas que só o amor, o perdão e a fraternidade devem triunfar.

Em Parceiria com a Missão PRESS (mensalmente no dia 24) 

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Agência ECCLESIA

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