Missa junto ao local do nascimento de Jesus, em Belém, evocou fome, guerras e doenças que atingem menores em todo o mundo
Lisboa, 25 mai 2014 (Ecclesia) – O Papa lembrou hoje os problemas que atingem milhões de crianças em todo o mundo, durante a Missa a que presidiu em Belém, na praça junto à basílica que assinala o local do nascimento de Jesus.
“Também hoje as crianças choram (e choram muito), e o seu choro interpela-nos. Num mundo que descarta diariamente toneladas de alimentos e medicamentos, há crianças que choram, sem ser preciso, por fome e doenças facilmente curáveis”, lamentou Francisco, perante cerca de 10 mil pessoas reunidas na Praça da Manjedoura.
A segunda Missa presidida pelo Papa na viagem à Terra Santa, iniciada este sábado na Jordânia, recordou ainda as “crianças-soldado” e os “pequenos trabalhadores-escravos”.
“Também hoje as crianças precisam de ser acolhidas e defendidas, desde o ventre materno”, declarou.
Francisco lamentou que num mundo que desenvolveu “as tecnologias mais sofisticadas”, ainda existam “tantas crianças em condições desumanas”, que vivem à margem da sociedade, “nas periferias das grandes cidades ou nas zonas rurais”, crianças “exploradas, maltratadas, escravizadas, vítimas de violência e de tráficos ilícitos”.
“Demasiadas são hoje as crianças exiladas, refugiadas, por vezes afogadas nos mares, especialmente nas águas do Mediterrâneo: de tudo isto nos envergonhamos hoje diante de Deus, Deus que se fez Menino”, afirmou.
Francisco chegou em automóvel descoberto à Praça da Manjedoura, onde foi acolhido pela autarca local, Vera Baboun, depois de um encontro com as autoridades palestinas, no palácio presidencial.
O Papa disse ser uma “grande graça” celebrar a Eucaristia junto do lugar onde nasceu Jesus e saudou todos os que “trabalham para manter viva a fé, a esperança e a caridade nestes territórios”.
A Missa, num espaço completamente lotado, contou com delegações de fiéis vindas de Gaza e da Galileia, imigrantes da Ásia e da África.
“O Menino Jesus, nascido em Belém, é o sinal dado por Deus a quem esperava a salvação, e permanece para sempre o sinal da ternura de Deus e da sua presença no mundo”, referiu Francisco.
O Papa acrescentou que hoje as crianças também são “sinal de esperança, sinal de vida” e o “diagnóstico” do estado de saúde “duma família, duma sociedade, do mundo inteiro”.
“Quando as crianças são acolhidas, amadas, protegidas, tuteladas, a família é sadia, a sociedade melhora, o mundo é mais humano”, realçou.
Francisco questionou os presentes sobre a sua atitude perante as crianças de hoje, falando em “pessoas que exploram as imagens das crianças pobres para fins de lucro”.
A homilia, que se concluiu com uma oração à Virgem Maria, apelou a “um novo estilo de vida, onde as relações deixem de ser de conflito, de opressão, de consumismo, para serem relações de fraternidade, de perdão e reconciliação, de partilha e de amor”.
O Papa falou em italiano, tendo sido a sua intervenção posteriormente traduzida para a assembleia, mas pronunciou algumas palavras em árabe, durante a celebração litúrgica.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, acompanhou a cerimónia e cumprimentou Francisco no momento do abraço da paz.
OC