Biblista evoca a história na região e afirma que a jornada de jejum e oração pela paz contraria a ameaça da «indiferença»

Lisboa, 23 ago 2025 (Ecclesia) – O biblista João Lourenço afirmou que a jornada de jejum e oração pela paz contraria a “indiferença” perante as guerras, apelou a um retorno de peregrinos à Terra Santa e disse que Israel está a “cavar a própria sepultura”.
“Israel não tem possibilidades de criar uma verdadeira estabilidade, de subsistir, se não criar harmonia com os seus vizinhos”, afirmou o padre João Lourenço, franciscano, investigador da história do povo bíblico em declarações à Agência ECCLESIA.
Para o padre João Lourenço, caso Israel não consiga assumir a diversidade de povos na região da Terra Santa, “respeitando para poder ser respeitados”, está a “cavar a sua própria sepultura, o seu próprio túnel, a vala comum do futuro”.
“O Governo de Israel está a proceder de tal modo que só está a cavar a sua própria sepultura”.
Para o biblista, Israel “tem tomado atitudes inacreditáveis, inexplicáveis e impossíveis de compreender”, tendo como justificação o ataque do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, que provocou 1200 mortos e causou 250 reféns.
A resposta de Israel ao ataque do Hamas já provocou mais de 62 mil mortos na Faixa de Gaza, por causa de ataques sucessivos que têm destruído o território e impedido que a ajuda humanitária chegue às populações, que levou a ONU a decretar, esta sexta-feira, o estado de fome na cidade de Gaza.
“A empatia que o governo de Israel ganhou a seguir ao 7 de Outubro está hoje completamente esvaziada, reverteu-se a situação”, afirmou o padre João Lourenço.
Os governantes de Israel, se conhecessem um bocadinho da história bíblica e a história dos seus anos passados, não caíam nestas asneiras”.
Para o biblista, o facto de o governo de Israel querer “desalojar as populações de um território que já é muito escasso”, “suprimir todas as possibilidades de apoio”, “querer por fora do território as populações” e determinar o “constante bombardeamento” do território palestino “contra as necessidades primárias dos habitantes”, é “um crime inacreditável e incompreensível”.

O padre João Lourenço considera o Estado Israel “profundamente sionista”, no “péssimo sentido do sionismo”, e, “como não pode subjugar o mundo, subjuga os próximos, os que estão ali ao seu alcance”.
O biblista referiu-se à decisão de alguns municípios de Israel, que aplicam taxas e confiscam bens de confissões religiosas, como aconteceu recentemente com a Igreja Greco-Ortodoxa, limitando as atividades no âmbito da saúde e da educação, “consideradas de carácter pastoral” e que estão protocoladas com o Estado de Israel, desde a fundação.
“Se não for isso, as populações locais, designadamente árabes e, porque não, cristãos, não conseguem ir para os hospitais de Israel pelos custos, pela marginalização que aí passam, pelo desprezo que lhes é dado”, afirmou.
Para o padre João Lourenço, que promove peregrinações e visitas de estudo à Terra Santa, o regresso de peregrinos à região é “recurso possível” para “deixar luzes e ânimo aos cristãos ali presentes”.
O biblista recordou a visita da presidência da Conferência Episcopal Francesa à Terra Santa, nos últimos dias, e o apelo para o regresso dos peregrinos, necessariamente em “grupos mais pequenos”, uma vez que “não há ainda logística” para que grupos grandes possam “visitar e peregrinar” no território.
O padre João Lourenço referiu-se também à iniciativa do Papa Leão XIV, que convocou para esta sexta-feira, uma jornada de jejum e oração pela paz, nomeadamente na Ucrânia e na Terra Santa, afirmando que é uma iniciativa com uma “dimensão universal” e que faz com que os conflitos em curso “não caiam no esquecimento e no abandono, na indiferença”.
“Estas iniciativas da procura da paz, que têm, naturalmente, uma componente política muito forte, têm também uma dimensão espiritual importante”, que o padre João Lourenço diz que é necessário “destacar, louvar e agradecer”.
PR
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