Terceira idade: Aumento da população idosa obriga a repensar políticas

Sociedade «não tem espaço» para os mais velhos, aponta o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz

Lisboa, 23 Fev 2011 (Ecclesia) – Segundo especialistas nas áreas da Saúde, da Economia e do Apoio Social, cuidar e enquadrar convenientemente uma população idosa cada vez mais numerosa deverá ser factor prioritário para a sociedade actual.

“A nossa sociedade não tem espaço para os idosos, a tal ponto que nós, o que queremos, é que eles não perturbem a nossa vida”, disse Alfredo Bruto da Costa, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, ao programa «70×7», emitido este domingo.

O aumento da esperança média de vida, que em Portugal se cifra agora nos 72 anos de idade, implica novos desafios para uma sociedade formatada para produzir, mas ainda pouco preparada para lidar com aqueles que terminaram a sua vida activa.

Em lugar das políticas actuais, que propiciam a concentração dos mais velhos – seja em lares, turismo sénior, festas, entre outros – faltam sobretudo soluções que promovam a troca de experiências entre os idosos e as gerações mais novas, que os ajude a sentirem-se úteis.

“Aquilo que eu considero que o idoso mais deseja é conviver com gente mais nova, desde bebés, creches, jardins-de-infância, centros de dia, enfim com as devidas cautelas, deve ser das melhores coisas que os idosos podem ter, para além da convivência com os familiares”, acrescenta Bruto da Costa.

A falta de tempo, a pressão do trabalho, as dificuldades económicas, a escassez de infra-estruturas próprias para a Terceira Idade, na doença, na atenção, nos afectos, leva a que, muitas vezes, as urgências dos hospitais sejam o único ponto de apoio para muitos idosos.

“As IPSS não dão número de vagas suficientes às solicitações. O último contacto que tive com uma colega duma IPSS da zona fala-me em números de lista de espera à volta de 300 a 500 pessoas, portanto é esta a situação que nós temos hoje em dia” explica Teresa Correia, assistente social do Serviço de Urgência do Hospital Garcia de Orta, em Almada.

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Outra questão prende-se com a queda da taxa de natalidade, que tem directa implicação na qualidade de vida dos idosos: com menos pessoas a produzir, há também menos pessoas para assegurar a subsistência daqueles que atingem a idade da reforma.

Portugal e diversos países europeus têm procurado combater esta tendência aumentando a idade da reforma.

Bagão Félix considera esta “uma perspectiva preguiçosa, errada, de analisar o problema”.

“Reformar-se as pessoas mais tarde acaba por ser como o lençol, que para tapar a cara, destapa os pés, ou seja, o que se poupa em pensões vai-se gastar em subsídios de desemprego” critica o antigo ministro da Segurança Social e do Trabalho.

Perante este quadro, o desafio passa por uma maior mobilização por parte da sociedade civil, de forma a encontrar soluções.

“Que as pessoas sejam mais proactivas, ou seja, não remetam sistematicamente para terceiros a responsabilidade de resolver os seus problemas. Nós às vezes ficamos pacatamente a ver passar estes problemas, e eu acho que todos somos co-responsáveis por encontrarmos uma solução”, defende Isabel Galriça Neto, médica e deputada do CDS-PP.

“O barómetro do desenvolvimento da nossa sociedade, não é o número de pontes, TGVs ou de auto-estradas que se constroem, é a forma como nós tratamos os mais vulneráveis”, conclui a também presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos.

A alteração deste paradigma poderá passar por uma mudança de mentalidade, a começar pela educação nas escolas – sublinhar junto dos mais novos a importância de cuidar daqueles que, apesar de já não constituírem um “activo” para o mercado de trabalho, ainda têm muito para oferecer e viver.

70×7/JCP

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