Ter um filho padre é um excelente modo de as famílias auxiliarem a sociedade

Homilia do Bispo de Vila Real na Missa das Ordenações 1- Há vinte anos ( fê-los no passado dia 28 de Junho ) entrei nesta catedral para iniciar o meu ministério de Bispo da diocese. Era como hoje uma tarde quente, com a Sé a arder de calor e a assembleia a transpirar. Vós, ordenandos de hoje, éreis na altura crianças da escola ou nem isso. Volvidos vinte anos aqui estais vós para um acto semelhante ao meu. A Sé está mais bonita e a temperatura amena, graças às obras nela efectuadas. A hora é a mesma, as quatro da tarde, o momento que S. João registou como a hora inesquecível do seu encontro definitivo com Jesus. Desejo e espero que este acto, neste dia e nesta hora, constitua sempre para vós o acontecimento inesquecível do vosso encontro íntimo com Jesus Cristo no ministério sacerdotal No trecho que foi lido da carta de S.Paulo ( Gál 5,1) ele ensina que aquilo que se passa na Ordenação supera as nossas forças, é obra do Espírito Santo, é uma acção de Deus em nós. Quando se planta uma árvore e se alimenta devidamente, ela, a seu tempo, dá fruto, fruto dela própria; quando um estudante se dedica, obtém um título académico, produziu-o ele próprio. No caso do sacerdócio não é assim: obtivestes um curso teológico, desenvolvestes a vossa personalidade, mas ser padre não vem de nós, vem de cima, é obra do Espírito Santo em favor da Igreja: « Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos escolhi a vós»( Jo 15,9 ). O povo testemunhou a sua boa impressão a vosso respeito, alguns fizeram-no por escrito, mas ficou por aí. Os próprios pais assistem ao mistério da Ordenação como algo que nasce de outra fonte. Por isso, renovareis publicamente a confissão dessa misericórdia divina prostrando-vos. Há anos, ao falar da crise do sacerdócio, o actual Papa dizia que ela nasce em parte da perda desta consciência da eleição de Deus para um serviço prestado ao povo a partir de Deus, para se igualar à mera função social nascida do consenso e da vontade do povo. Vós não sois ministros do povo, nem da sua doutrina, mas ministros de Cristo, como se recordará no diálogo da Ordenação. O Evangelho convida a decisões definitivas. Fixai o gesto de Eliseu: para servir bem é preciso queimar os outros arados do mundo, e esses arados são os sonhos deixados e até os chamados direitos humanos. Esses direitos vigoram no padre em relação à sociedade civil em que estamos inseridos, mas, no nosso ministério, às vezes é necessário saber perder: « O Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça». Permiti que vos recorde os três pilares onde deve apoiar-se o vosso coração de padres: a vossa família como raiz remota da vossa vocação, pois embora o sacerdócio não seja fruto do sangue, a sensibilidade primeira e a inclinação original começam geralmente aí; o outro pilar são os vossos colegas padres ( os condiscípulos, os mais velhos e os que hão de vir ), uma vez que fazeis parte de uma Ordem, a Ordem dos presbíteros e esse pilar é lembrado pela imposição das mãos, não havendo padres por sua conta; o terceiro pilar é a intimidade com Jesus Cristo: pode saber-se teologia sem ter amizade, podem fazer-se coisas religiosas sem amor. Para ser padre é preciso que o saber se faça amor, que a acção seja serviço, admiração, encanto. São três pilares sólidos, mas o maior dos três é o amor a Jesus Cristo: só ele permite vencer alguns momentos de desequilíbrio dos outros dois pilares. 2- Aos dois candidatos ao Acolitado, lembro que, pela pedagogia dos ministérios e dos graus do sacramento da Ordem, a Igreja ensina que a assimilação interior do sacerdócio leva o seu tempo. Requer esforço pessoal, empenho diário, e não poderemos dar saltos. Recebei como um mandato sagrado estes seis meses para desenvolverdes o amor pessoal e a capacidade de saber incutir nos outros o amor à Palavra de Deus, e, sobretudo, a Jesus na Eucaristia. Tudo o que seja preparar a Primeira Comunhão de crianças, a Profissão de Fé e o Crisma dos jovens e adultos, deve constituir para vós uma oportunidade de aprender a ser Padre. 3- Queria deixar aos pais e demais adultos participantes nesta Celebração uma palavra de muita estima e de orientação. Ter um filho padre é um dom de Deus, e é um excelente modo de as famílias auxiliarem a sociedade, mas esse dom deve pedir-se a Deus e prepará-lo em família: «Pedi ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe». Hoje há poucos padres também porque não são desejados pelos pais. Nunca poderei esquecer o desabafo de algumas mulheres, mães de filhos padres e de religiosas, que afirmaram ter rezado muito, desde o dia do seu casamento, a pedir a Deus que escolhesse algum filho para Ele. Semelhante ao calor desta oração somente a oração do próprio Padre que reza pela vinda de um sucessor. É este mistério do sacerdócio ministerial que vamos viver na oração desta tarde. Sé de Vila Real, 1 de Julho de 2007 Joaquim Gonçalves, Bispo de Vila Real NOTA: Receberam Ordens de Presbítero os Diáconos Hélder Norberto Pires de Magalhães ( Viade-Montalegre ) , Nuno Fernandes Reis (Lebução-Valpaços) e Pedro Rei Alves ( Beça- Boticas ). Na mesma celebração foram instituídos no ministério de Acolitado Jorge Alexandre da Costa Rodrigues ( Telões – Vila Pouca de Aguiar ), e Ricardo José Martins Machado ( Mondrões- Vila Real ), ambos candidatos ao presbiterado.

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Agência ECCLESIA

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