José Luís Nunes Martins

Há momentos em que nos sentimos algo perdidos entre a certeza de que merecemos muito mais do que aquilo e aqueles que está e estão à nossa volta, e uma outra certeza contrária que nos garante que tudo o que temos já é muito mais do que merecemos.
Serei eu um desafortunado que merece compaixão e que deve aspirar a mais do que tenho ou, pelo contrário, sou um impostor que já tem muito mais do que seria justo? E é nesta espécie de maré interior que a forma como me vejo e me avalio varia entre opostos.
A verdade é que mereceremos sempre ser mais, porque haverá sempre que precise do que temos e somos de bom. Se seguirmos por esse caminho chegaremos ao céu, em todos os sentidos!
Mas também é verdade que desconsideramos muito o que já há de bom na nossa vida. Assim, é quase sempre uma mentira completa que tenhamos pouco e que sejamos uns desgraçados que vivem num qualquer vale de trevas.
Neste mundo nem sempre recebemos o que merecemos. Nem as recompensas nem as penalidades.
Talvez não seja bom confiar nas emoções do momento, e procurar, com calma, olhar com verdade para todos os que nos amam e para tudo quanto julgamos nosso, mas que, num instante, podemos perder.
Que eu saiba sempre reconhecer e acolher o amor que me é dado por outros, e, da mesma forma, nunca me satisfaça com o que já sou e amo, procurando e encontrando sempre formas de ser e amar mais.