(…) Valorizar pequenas coisas, que não são do mercado nem por lá se encontram, descobrindo o valor da entrega, da gratuidade, da solidariedade, (…) da espiritualidade
Há uma sede quase insaciável de quantificação, na sociedade de hoje. As realidades diárias são reduzidas a números, as pessoas a estatísticas, tudo é contabilizado para um consumo imediato (e muitas vezes mediático).
Nesta tirania dos números, continuamos a viver um momento de viragem, em que ainda não se vislumbra com precisão o novo rumo, um destino seguro, um sentido de futuro para o presente marcado por tantas dificuldades, em que muitas questões se levantam sem que surjam as respostas mais adequadas.
O lazer, o tempo livre, o encontro com outras pessoas e outros lugares surgem assim como um desafio para sair da quotidianidade, valorizando o que é único, pessoal, irrepetível e não cabe numa fotografia, em duas linhas, em 30 segundos.
A atual crise económica fez com que muitas pessoas colocassem as suas prioridades em perspetiva e aprendessem a valorizar estas pequenas coisas, que não são do mercado nem por lá se encontram, descobrindo o valor da entrega, da gratuidade, da solidariedade e, nalguns casos, da espiritualidade.
Descobrir que dentro de nós há coisas que não se compram nem se vendem, mas reclamam atenção, tempo e dedicação é um caminho de realização pessoal que pode contagiar a comunidade e levá-la a potenciar o que de melhor tem em si, através da soma das qualidades de cada um.
As próximas semanas, que para muitos são de descanso, podem ser um tempo de inspiração para reformular projetos e expectativas, mostrar reconhecimento a quem nos rodeia, longe da agitação em que os dias mergulham, dos tempos que se agitam.
Para muitos, também, será uma oportunidade para reencontrar sentidos e rumos, na relação com os outros e com Deus, de vislumbrar os sonhos do que verdadeiramente se gostaria de viver, em busca de respostas mais profundas, que permanecem para lá do tempo que passa.
Octávio Carmo