Rui Marques
Para quem espera a visita do Papa Bento XVI, no próximo mês de Maio, é tempo de vigília. Oportunidade para preparar corações, focar olhares e perceber o essencial. Hora de ir ao fundo das coisas e procurar sentido, passando para além da enorme nuvem de poeira que paira nos nossos dias. Num tempo turbulento e cheio de ventos contraditórios, é sábio fazer silêncio e começar pelo princípio. “Contigo caminhamos na esperança” pode ser esse ponto de abertura.
1. Contigo – A visita do Papa trar-nos-á seguramente a consciência viva que somos comunidade. Ninguém é cristão sozinho. Existimos para amar e para servir um “outro”, que, sendo irmão, é a imagem viva do nosso Deus. Mas “contigo” será também nesta visita uma expressão serena de solidariedade da Igreja portuguesa com Bento XVI quando os dias são duros. Quase sem palavras, é tempo de dizer “presente”. O Papa precisa de saber que conta com a sua Igreja. Finalmente, este “contigo” será – sobretudo – a certeza de que cada um de nós é profundamente amado por Deus, nunca por Ele abandonado. Acreditar é, por isso, saber-se eternamente cuidado por um Pai de misericórdia, sempre presente. Vale a pena ter isto presente nas vésperas da chegada do sucessor de Pedro, aquele discípulo que tendo negado três vezes o Senhor, ouviu “tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja”.
2. Caminhamos – A presença do Santo Padre entre nós será uma metáfora de quem está a caminho da terra prometida. Com ele, com a Igreja e com toda a Humanidade, somos chamados a percorrer um trilho difícil, incerto e – tantas vezes – doloroso. Com dias de sombra, mas também com momentos de grande consolação. Mas se de alguma coisa estamos proibidos é de ficar sentados, de desistir ou, pior ainda, de voltar para trás. O apelo que pode ecoar em nós é que saibamos caminhar na presença do Espírito Santo, ansiando pela Cidade eterna, à qual verdadeiramente pertencemos, mas cumprindo já – hoje e aqui – a nossa missão. E esta interpela-nos a não caminhar sozinhos e, em particular, a não deixar para trás aqueles que não encontram sentido neste caminho. “Cuida do teu irmão nesse caminho” será, provavelmente, uma palavra que podemos esperar de Bento XVI nesta visita.
3. Na esperança – Foi este nosso Papa que, em 2007, dizia com grande clarividência que “se sente em Roma, como em todo o lado, este défice de esperança e de confiança na vida que constitui o mal “obscuro” da sociedade moderna ocidental”. Bento XVI percebeu muito bem a erosão deste nosso mundo, que todos os dias destrói confiança e mata a esperança. Talvez seja esse é o grande pecado social contemporâneo. Por isso, a sua vinda será também uma oportunidade de tornar presente, para todos nós, essa mensagem em contra-ciclo. Foi também ele que nos quis iluminar esse tempo com uma encíclica que nos lembra a verdadeira esperança que salva. Com o Papa, nesta caminhada, somos chamados a colocar a nossa esperança no Cristo ressuscitado que nos diz, em dias de tempestade, “não temais”. É deste Senhor Jesus que, no olhar de S. Mateus, ouvimos como última palavra a certeza que estará connosco até ao fim dos tempos.
Este pode ser um tempo muito fecundo, se soubermos fazer a vigília de quem espera, de quem caminha, de quem acredita.
Rui Marques, Presidente do MEP