Tempo da Criação: Um mês, 321 paróquias e milhares de quilómetros depois, frades Capuchinhos encerram viagem de autocaravana pela Diocese de Bragança-Miranda (c/fotos)

Frei Hermano Filipe faz balanço da iniciativa, que se estendeu ao longo de quatro semanas, e padre Tiago Alves e bispo diocesano dão o testemunho de como viram a peregrinação pelas comunidades

Bragança, 03 out 2025 (Ecclesia) – Os frades Capuchinhos da FIPA – Fraternidade Itinerante de Presença e Apostolado concluem, este sábado, a peregrinação pela Diocese de Bragança-Miranda, um mês depois do início da viagem de autocaravana, percorrendo 321 paróquias e milhares de quilómetros.

“Foi um mês extremamente rico, com muitas surpresas, com muitas coisas com as quais não contávamos, muitos encontros, também alguns desencontros, mas muitos encontros, e muitos sinais de esperança nas comunidades que fomos encontrando, com quem nos fomos cruzando, com quem fomos rezando, e que, de algum modo, passam a fazer parte de nós também”, afirmou o frei Hermano Filipe, responsável pela FIPA, em declarações à Agência ECCLESIA.

No âmbito do “Tempo da Criação”, celebração ecuménica e ecológica que termina este sábado, na festa litúrgica de São Francisco de Assis, os freis Hermano Filipe, John Naheten e Hermenegildo Sarmento entraram na “Caravana da Esperança” para durante quatro semanas conhecerem melhor a diocese, onde estão há dois anos.

“Nós, como franciscanos Capuchinhos, a itinerância está no nosso ADN. O que não faz sentido é meter a âncora num sítio e ficar a viver de rendimentos, rendimentos pastorais. Isso é que realmente não faz sentido”, sublinha o guardião da FIPA, que acrescenta que era preciso fazer mais do que estar no “conforto de casa”.

O frei Hermano Filipe explica que a iniciativa surge como uma tentativa de “dar corpo” ao projeto da FIPA e ao “sonho franciscano” de ir para uma terra onde há alguma “carestia de sacerdotes, de consagrados”.

“Foi cansativo, os pés já se queixam, também de carregar o pedal, mas muito, muito gratificante”, expressou o frade, esta quinta-feira, realçando o contacto com as comunidades mais isoladas, que agradeceram a passagem da “Caravana da Esperança”.

[As pessoas] ficam admiradas e penso que felizes e, em certo sentido, com um bom orgulho por terem sido também contempladas e termos passado por aqueles espaços religiosos que lhes são queridos, para rezar com elas, para estar com elas, e também no adro da igreja ou na praça”, refere.

Também os frades Capuchinhos foram surpreendidos pelas realidade que encontraram durante a viagem, nomeadamente com os sacerdotes que, segundo o frei Hermano Filipe, “são realmente um sinal de esperança” para aquelas terras.

“Nós às vezes focamos muito nas experiências negativas, no que há de menos bom, e eu cruzei-me com alguns sacerdotes que realmente dão o corpo ao manifesto, não estão apenas para cumprir calendário. Quando nós vamos a algum lado e as pessoas sabem o nome do pároco, e o pároco sabe o nome das pessoas, é muito bom sinal”, assinalou.

O padre Tiago Alves, da Zona Pastoral de São Bento, em Mirandela, foi um sacerdotes que se cruzou com a peregrinação dos Capuchinhos da FIPA, acompanhando-os pelas 22 comunidades que estão ao seu cuidado, destacando que a passagem da “Caravana da Esperança” foi uma “bênção”.

As pessoas participaram e colaboram e questionavam: ‘O que é isto” [….] Nem sempre estão habituados a ver os nossos irmãos religiosos na terra e muito menos de caravana, não é? Porque dá a impressão que há espaços em que a Igreja não entra ou na Igreja não fica bem e, de facto, ver os frades numa caravana é algo que mexe connosco”, salientou.

Quando soube da iniciativa, o sacerdote questionou-se e pensou que “não fosse uma coisa de passar sem deixar semente, sem ter algum sentido”, evidenciando que este é um “caminho vivo e novo com São Francisco há 800 anos” e “continua a ser permanente”.

“Confesso que foi a primeira vez que eu consegui passar num dia por todas as comunidades, que foi esta ginástica, e vou também satisfeito. Até pela adesão pelas pessoas que estão e que rezam. Enfim, que sentem esta igreja sua, sua pertença”, indicou.

Da passagem dos três frades Capuchinhos, o padre Tiago Alves considera que fica o “carinho e a presença”: “São as duas palavras, duas sementes, que hão de dar frutos como árvores frondosas. É o carinho da parte do povo de Deus também para com a igreja e esta presença da igreja que abraça e carinha o povo de Deus”.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

O bispo de Bragança-Miranda, a quarta mais extensa de Portugal, olha para a iniciativa da “Caravana da Esperança” como a “prova da importância dos carismas que vêm para uma diocese e trazem algo de novo, de criativo”.

D. Nuno Almeida descreve a iniciativa como “um pouco surpreendente”, uma vez que a diocese “é muito grande”, confidenciando que, no início, apesar de não duvidar da capacidade dos irmãos Capuchinhos para fazer o percurso, sabia que esta “não era uma tarefa fácil”.

“Isto é mais ou menos uma peregrinação simbólica de acompanhar um dia os freis, mas para mim é também uma espécie de laboratório, de ver o olhar, a luz no olhar das pessoas que acolhem, que nos recebem. Isto também acontece na visita pastoral”, expressa.

Para o bispo diocesano, o ‘Tempo da Criação’ e a “Caravana da Esperança” vêm sobretudo “avivar” a consciência da proposta que está nas encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti, isto é, uma nova maneira de olhar para a criação, para a Casa Comum e de um novo modo de pensar o dia a dia, “menos consumista”.

“Diferentemente do Minho, onde andei sete anos, e da minha zona de onde sou originário, da Beira-Alta, aqui não existem terras abandonadas. Havendo pouca gente, os campos não estão abandonados, estão cuidados […] e, sobretudo no inverno, quando as amendoeiras estão em flor, eu costumo ir meia hora, uma hora mais cedo sempre para poder contemplar”, testemunha.

CB/LJ/OC

«Tempo da Criação»: Três frades Capuchinhos e uma autocaravana em viagem pelas 321 paróquias da Diocese de Bragança-Miranda

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