Temos o valor daquilo que somos para os outros

Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal

A Luísa que vos escreve hoje não é a mesma que vos escreveu o mês passado.

Não, não mudei fisicamente. Continuo cheiinha, de cabelo a precisar de corte e de tinta, vermelha como o clube do meu pai. A modificação foi de outra índole. Mas garanto-vos que foi tão séria, quão breve a vida humana pode ser!

Em frações de segundos, eu que estive no Monte, no dia da queda de uma árvore que ceifou a vida a 13 pessoas e vi o verdadeiro significado da frase: não somos nada, estava ali a viver a experiência de quase ter ficado debaixo de um enorme galho de uma árvore.

Só não fiquei porque ouvi uns estalidos e o instinto fez-me correr. Mas ainda fui apanhada pelas ramagens, que me atiraram contra o chão e me causaram algumas mazelas.

Tudo isto fez-me pensar que eu, pecadora, tive a mão de Deus a me apurar os sentidos e a perceber que alguma coisa se ia passar.

Ironicamente, tudo isto aconteceu à entrada de um centro de saúde. Foram pessoas que por ali estavam, utentes presumo, que me ajudaram a levantar, que foram buscar uma cadeira de rodas e me levaram para o interior do espaço.

No meio de tudo isto, para o relato não se alongar, acabei sendo muito bem tratada pelos profissionais de saúde do centro, bem como por aqueles que me receberam no hospital, para onde fui depois enviada para exames complementares.

Isto aconteceu na quinta, dia 22 de junho. No fim de semana seguinte, as leituras questionavam-nos sobre o nosso valor. Nas várias Eucaristias em que participei, D. Nuno Brás, bispo do Funchal, fez questão de dizer às pessoas que elas valem mais do que os seus sonhos, a sua forma física, as suas qualidades e os seus defeitos.

Valem, e era aqui que eu queria chegar, por aquilo que são uns para os outros. Assim sendo resta-me dizer que aqueles que me ajudaram são pessoas de um valor imensurável. Pelo menos para mim. E acredito que para Deus também.

Sem saberem, foram exemplo prático daquilo que vim depois a escutar. É assim que a vida nos ensina.

Não somos nós que temos de dizer o que valemos, mas Deus que o tem de mostrar, afastando-nos do perigo e colocando no nosso caminho as pessoas certas, como colocou o Seu Filho no meio de nós.

Ele que assume os nossos pecados e nos transforma em homens novos, capazes de O dar a conhecer, capazes de ser Sua presença num mundo cada vez mais egoísta, mais virado para o seu umbigo, que teima em não ver o irmão que sofre.

Daí este desabafo ter como principal intuito o agradecimento. Não só pela mão protetora que me afastou do perigo maior, mas também pelos seres de grande valor que, naquele dia, Deus colocou na minha vida e para quem que peço recompensas pelo seu gesto altruísta e pelo seu trabalho enquanto profissionais de saúde.

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Agência ECCLESIA

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