Peça, que parte de uma «metáfora da fé», aponta para a «necessidade de ter esperança na vida» e «confiar no desconhecido», diz Luís Miguel Cintra
Lisboa, 19 fev 2013 (Ecclesia) – Luís Miguel Cintra, codiretor do Teatro da Cornucópia, em Lisboa, considera que a peça “O Estado do Bosque”, escrita pelo padre José Tolentino Mendonça e atualmente em exibição, “não é doutrina mas um objeto estético que faz pensar”.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o responsável afirmou estar a sentir “alguma resistência” por parte de pessoas que, por se tratar de uma peça “escrita por um padre”, pensam que vão ver “a ilustração de preceitos religiosos” e ficam “muito incomodadas, muito mais do que os ateus”.
O encenador, que nesta dramatização assume o papel de protagonista, sublinhou que o padre Tolentino Mendonça, “gosta de abordar a questão da fé a partir do lugar daquele que não a tem”, realçando que ela é uma “descoberta” e não “algo imposto de cima para baixo, como uma lei a que é preciso obedecer”.
O texto do diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura “demora muito tempo a ser apropriado, o que é bom sintoma”, referiu Luís Miguel Cintra, acrescentando que é “riquíssimo, cheio de referências culturais, mas que pode ser apreendido de maneira extremamente simples”.
A peça, que parte de uma “metáfora da fé”, aponta para a “necessidade de ter esperança na vida” e “confiar no desconhecido”, assinalou o responsável, que ao longo do tempo foi “descobrindo inúmeras referências e citações, sobretudo da Bíblia”.
Para a Cornucópia, de que Luís Miguel Cintra foi cofundador, a apresentação de ‘O Estado do Bosque’ significa “ceder lugar a uma personalidade muito forte, enquanto criador, que é o padre Tolentino, constituindo também a oportunidade de “estrear um original português de grande qualidade, que não aparece todos os dias”.
O padre Tolentino Mendonça sublinhou que o espetáculo é um “ato de muita coragem” por parte da companhia, ainda que seja “muito natural” abrir as portas do Teatro “à reflexão sobre o que é crer”.
O texto, iniciado em Lisboa e concluído em Nova Iorque, é “uma pergunta sobre o que é o problema religioso na vida de um homem”, explicou o sacerdote, para quem “a fé tem de ser provada pela pergunta da descrença”.
‘O Estado do Bosque’, que sobe ao palco até 24 de fevereiro, “é uma parábola, e enquanto tal toca os que estão dentro e os que estão fora”, realçou o poeta madeirense.
Luís Miguel Cintra não previu que a peça “tivesse tanto êxito” e admite a possibilidade de a repetir, embora “com outra conceção cénica”.
PTE/RJM