Taizé: Relação com protestantes passou da desconfiança à descoberta da catolicidade

Responsáveis destacam à ECCLESIA processo de mudança ao longo de 75 anos

António Marujo, jornalista do religionline.blogspot.pt, em serviço especial para a Agência ECCLESIA (o autor escreve segundo a anterior nota ortográfica)

Taizé, França, 20 ago 2015 (Ecclesia) – A relação do protestantismo com a comunidade monástica ecuménica de Taizé (França) passou da desconfiança à descoberta do carácter “pioneiro” do irmão Roger, o seu fundador, e ao “alargamento de perspectivas” das Igrejas reformadas.

Coincidem nesta leitura dois responsáveis protestantes franceses: os presidentes da Federação Protestante de França (FPF), pastor François Clavairoly, e da Igreja Protestante Unida de França (IPUF), pastor Laurent Schlumberger.

Clavairoly e Schlumberger estiveram em Taizé, entre sábado e domingo, na tripla celebração da comunidade: 100 anos do nascimento do irmão Roger, dez anos sobre a sua morte (dia 16) e 75 anos da chegada do fundador de Taizé à aldeia da Borgonha, que hoje se completam.

“A família espiritual na qual Roger Schutz nasceu e cresceu é a Igreja reformada. As suas relações com ela nunca foram simples: como todos os pioneiros, o irmão Roger fez rachar as ligações” afirmou à ECCLESIA o pastor Laurent Schlumberger, da IPUF.

“O irmão Roger permaneceu sempre ligado às convicções centrais da Reforma e não negou nunca a sua tradição espiritual. Mas esse foi o ponto de partida de um caminho, de uma aventura da qual toda a Igreja é beneficiária”, acrescenta este responsável.

No domingo, ao início da tarde, Schlumberger foi um dos responsáveis religiosos a intervir num momento evocativo dos aniversários de Taizé.

A convite dos irmãos da comunidade, uma centena de responsáveis religiosos, entre os quais o cardeal-patriarca de Lisboa e o cardeal Kurt Koch, participaram na evocação, que incluiu dois momentos de oração ao ar livre.

O pastor Schlumberger diz que “haveria vários pontos a sublinhar” sobre o contributo do irmão Roger à família reformada, mas prefere destacar a palavra “alargamento”.

O fundador de Taizé “alargou o horizonte dos reformados para lá das estreitezas confessionais e geográficas, pela prática do silêncio numa tradição em que por vezes se gosta muito do discurso”.

Schlumberger destaca ainda a preocupação do irmão Roger pela unidade: “A verdadeira unidade é sempre um alargamento.

Em resumo, “trouxe, ao coração da Igreja reformada, a exigência da catolicidade”.

François Clavairoly, da FPF, admite por seu lado que a relação entre Taizé e o protestantismo melhorou nas últimas duas décadas.

“Houve mesmo ocasião de várias descobertas”, diz à ECCLESIA.

“O reconhecimento do testemunho de fraternidade do irmão Roger e da comunidade, o alargamento da visão ecuménica e a redescoberta da dimensão comunitária e monástica na tradição reformada”, prossegue.

Este último é “um desafio” ao protestantismo, depois de ter desaparecido após a Reforma, diz.

Apesar disso, há já três comunidades monásticas protestantes, todas elas femininas: Pomeyrol e Reuilly, em França, e Grandchamp, na Suíça, onde o próprio irmão Roger tinha estado antes de chegar a Taizé e cuja prioresa, a irmã Pierrette, esteve no Domingo em Taizé.

A desconfiança do protestantismo em relação ao que se considerava uma certa “orientação católica de Taizé”, diz o pastor da FPF, verificou-se porque desde cedo os monges da comunidade tentaram encontrar-se com o Papa e pelo acento “católico” da liturgia.

Clavairoly pensa que a Eucaristia “ainda é um problema por resolver” e um desafio para Taizé: “Uma informação mais explícita junto dos jovens e uma prática mais visível”.

Isso não esconde o resto, dado que os protestantes não colocam a Eucaristia “no centro do culto cristão, mas a escuta da palavra e o anúncio da salvação pela graça”.

A desconfiança está, assim, ultrapassada, diz Clavairoly.

O actual prior da comunidade, o irmão Alois, sublinhou nas celebrações de Domingo que Taizé “não é de nenhuma igreja e não é uma igreja”.

“A comunidade é uma verdadeira bênção para todas as igrejas”, diz o pastor Clavairoly, e a “mundialização da sua espiritualidade é uma evidência.”

François Clavairoly destaca ainda a solidariedade da comunidade com os mais pobres e os países do Sul do mundo: há cinco pequenas fraternidades de Taizé no Bangladesh, Coreia do Sul, Quénia, Senegal e Brasil, e uma outra começará em Setembro, em Matanzas (Cuba).

Em Taizé, resume, pode-se falar de religião ou espiritualidade como “algo que traz a confiança e a paz e não a violência ou a ameaça”.

AM

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Agência ECCLESIA

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