Dois democratas-cristãos e dois verdes comentam referência do Papa no Parlamento Europeu ao cuidado com a fragilidade
António Marujo, jornalista do religionline.blogspot.pt; serviço especial para a Ecclesia
Borgonha, França, 14 ago 2015 (Ecclesia) – Como reagem quatro eurodeputados aos apelos do Papa Francisco no Parlamento Europeu (PE)? Em Novembro, o Papa fez um discurso em Estrasburgo que “desafiou os deputados a agir” mas, “infelizmente, sem grandes consequências”.
Ou talvez não. A opinião pessimista de Sven Giegold, eurodeputado dos Verdes Alemães, não é inteiramente partilhada por Alojz Peterle, democrata-cristão e primeiro-ministro esloveno entre 1990-92, quando o país se tornou independente, após o fim da ex-Jugoslávia comunista.
O discurso do Papa foi ouvido por muitos deputados que, no seu trabalho parlamentar, procuram colocar os apelos de Francisco em acto, defendeu Peterle.
Ambos os deputados participaram em Taizé, esta semana, em debates sobre política e solidariedade, no âmbito do encontro Por uma Nova Solidariedade (que começou em português).
Num dos debates, juntaram-se a outros dois membros do Parlamento Europeu (PE): O húngaro Gyorgy Holvenyi, democrata-cristão, e o belga Philippe Lamberts, dos Verdes.
O tema tomou uma frase do Papa no discurso de Novembro aos eurodeputados: “Na vossa vocação de parlamentares, sois chamados também a uma grande missão (…): cuidar da fragilidade, da fragilidade dos povos e das pessoas.”
Sven Giegold, protestante, disse que tem procurado fazer da sua fé o fundamento da sua intervenção política. E foi muito contundente: o Papa desafiou duas vezes os eurodeputados a agir em diferentes campos. “Sem consequências.”
Ao contrário do que deveria acontecer, disse, apontando quatro âmbitos como exemplo.
“O Papa falou de opção pelos pobres. Não é justo, por isso, que os mais ricos não paguem impostos” em vários domínios. Francisco referiu-se ainda aos migrantes. “Muitos imigrantes vêm para a Europa e continua a haver mortes e violências sobre eles. Não houve mudanças neste âmbito.”
Também para com a questão da dívida este eurodeputado é crítico: “A Bíblia mostra que não se deve matar ninguém economicamente por causa de dívidas. Era esse o espírito do ano jubilar na Bíblia.”
Finalmente, sobre a democracia: “O Papa apelou a que houvesse mais democracia. Enquanto protestante, eu sugeria que ele deveria começar por conseguir isso na sua Igreja. Mas é verdade: há muita burocracia e pouca democracia na União Europeia.”
Alojz Peterle, que enquanto primeiro-ministro liderou a transição da Eslovénia para a democracia, pensa que “os problemas que hoje se vivem na Europa têm a ver com a mesma falta de respeito pela dignidade humana que se vivia na ex-Jugoslávia”.
Peterle deu o exemplo da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, “duas nações cristãs e eslavas”. E perguntou, sobre os imigrantes: “A solidariedade deve ser só distribuir recursos ou algo mais?”
Da mesma área política democrata-cristã, o húngaro Gyorgy Holvenyi destacou a “capacidade” do Papa em “ligar crentes e não-crentes”. Até porque não se pode pensar “numa única via” para resolver os problemas, disse.
“Na Europa, temos tudo”, mas há também problemas graves como a solidão, a pobreza, o desemprego, referiu.
Philippe Lamberts, deputado belga pelos Verdes, disse que “a política que temos tido” desde o início da crise, em 2008, “agravou a pobreza e a exclusão social”
“Cada pessoa, e não apenas os deputados do PE, é chamada a uma grande missão, que é cuidar da criação”, acrescentou.
O eurodeputado dos Verdes belgas referiu-se ainda ao que se passou com o acordo da União Europeia com a Grécia: “Basicamente, estamos a suspender a democracia num Estado-membro, impondo um sistema colonial. O mercado passou a ser visto como um deus e o direito ao lucro está acima de todos os outros: direitos sociais, justiça e democracia.”
(o autor escreve segundo a anterior norma ortográfica)