Taizé: «Na Síria todos perguntam onde está Deus», diz irmão Alois

Prior da comunidade ecuménica falou à imprensa durante encontro europeu de jovens que decorre em Valência

António Marujo, jornalista do religionline.blogspot.pt em serviço especial para a ECCLESIA

(o autor escreve segundo a anterior norma ortográfica)

Valência, Espanha, 29 dez 2015 (Ecclesia) – O irmão Aloïs, prior de Taizé, disse hoje em Valência (Espanha) que na Síria toda a gente pergunta “porquê tanta violência” e “onde está Deus”.

Numa conferência de imprensa, durante o encontro europeu de jovens, animado pela comunidade ecuménica de monges, o prior de Taizé contou que passou o dia Natal em Homs, uma cidade devastada pela guerra civil.

“Todos os que encontrei na Síria me disseram: ‘Reze por nós’. Escutemos o seu apelo e confiemos a Deus os que sofrem a violência no Médio Oriente. Trazemos dentro de nós as perguntas pungentes que eles fazem: Porquê toda essa violência? Onde está Deus?”, referiu o responsável da comunidade, durante a meditação da oração de segunda-feira à noite.

O irmão Aloïs marcava deste modo, com a questão dos refugiados e da guerra na Síria, uma das preocupações que trouxe para o encontro.

Sobre Homs, uma “cidade fantasma”, e a guerra na Síria, onde esteve depois de ter passado alguns dias campo de refugiados no Líbano, o prior de Taizé afirmou que “a extensão da destruição é inimaginável”, com “grande parte da cidade em ruínas”.

Outras inquietações, acrescentaria depois na conferência de imprensa, são a Ucrânia, que também vive uma guerra civil no leste do país; a África, que a Europa deve em primeiro lugar “escutar” e não exportar coisas; e Cuba, “neste novo período de transição”.

Da Ucrânia, vieram a Valência dois mil jovens participantes (o segundo maior grupo estrangeiro, depois dos polacos).

O prior de Taizé recordou ter estado na Páscoa na capital do país, Kiev, bem como em Moscovo, capital da Rússia: “Quisemos mostrar que em todo o lado há pessoas que querem a paz”.

Um encontro em Cotonou (Benim), entre 31 de Agosto e 4 de Setembro do próximo ano, será uma forma de a comunidade chamar a atenção para a realidade africana.

Em Cuba, dois irmãos de Taizé irão viver a partir de Fevereiro, numa pequena fraternidade, para estar junto das pessoas e partilhar as condições de vida dos mais pobres.

Na conferência de imprensa de hoje, ao fim da manhã, o prior de Taizé confessou ainda que se sentiu “muito tocado” pelo grau de destruição que viu.

“A situação é um apelo para nós, um apelo para tenhamos a coragem da paz e da reconciliação. Não podemos alterar de repente a situação na Síria, mas podemos mudá-la deste já a partir daqui, optando pelo caminho do amor. Deus está junto das pessoas, mesmo quando elas não sentem a sua presença”, insistiu.

Mesmo reconhecendo que a Europa vive uma situação de “crise, com desemprego e migrantes” a bater às suas portas, o irmão Aloïs sustentou que “a Igreja pode mostrar que a fraternidade é a resposta” que todos devem dar.

Os sírios esperam dos europeus que mostrem estar perto deles.

“Muitos me pediam: ‘Diga em Valência que a maioria das pessoas querem viver juntas, sejam muçulmanos ou cristãos de diferentes denominações. Mas a nossa voz não chega a ouvir-se porque as armas têm mais força’”, relatou.

O cardeal Antonio Cañizares, arcebispo de Valência, também presente na conferência de imprensa, insistiu igualmente no papel da Igreja e dos cristãos.

“Desde o primeiro momento, a Igreja de Valência está aberta a famílias sírias cristãs perseguidas”, disse.

O encontro da “peregrinação de confiança através da terra”, como Taizé designa a iniciativa decorre em Valência até sexta-feira, com a participação de cerca de 15 mil jovens de toda a Europa, dos quais perto de 300 portugueses.

AM/OC

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Agência ECCLESIA

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