«De uma forma muito simples, tentamos, como irmãos, viver um sinal de unidade em Cristo, uma unidade que já é dada nele» – Irmão Matthew
Taizé, França, 040 mar 2025 (Ecclesia) – A Comunidade de Taizé recebe vários jovens no carnaval, de Portugal são “mais de 1200”, e desde há dois meses tem um novo irmão português, o prior afirma que “amor de Deus” é a mensagem que ressoa à juventude.
“O Irmão Roger falava de ‘luta e contemplação’. Penso que é o mesmo hoje. Se respondermos ao amor de Deus, seremos conduzidos a uma vida de oração que nos abrirá para amar o próximo que Deus nos confiou”, disse o irmão Matthew, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O prior da Comunidade monástica de Taizé, desde 2 de dezembro de 2023, acrescenta que o “amor de Deus é dado incondicionalmente e manifesta-se em Jesus”, quando se reconhece esse amor, compreende-se que “existe um convite para entrar numa relação em que a vida interior e a solidariedade humana são uma só realidade e não podem ser separadas”.
Os dias de pausa no Carnaval são uma oportunidade para muitos jovens, de Portugal incluídos, rumarem à “colina” de Taízé, este ano não está a ser diferente, estão “mais de 1200 portugueses”, desde este domingo, na comunidade.
“Vêm viver o início da Quaresma connosco!”, salientou o irmão David à Agência ECCLESIA, sobre o novo tempo litúrgico na Igreja Católica, de preparação para a Páscoa, que começa esta Quarta-feira, com a celebração das Cinzas.
A Igreja Católica está a celebrar o Ano Santo 2025, o seu 27.º jubileu ordinário, até 6 de janeiro de 2026; o Jubileu foi proclamado pelo Papa Francisco na bula ‘Spes non confundit’ (A esperança não desilude).
“De uma forma muito simples, tentamos, como irmãos, viver um sinal de unidade em Cristo, uma unidade que já é dada nele, e uma antecipação de algo que virá em plenitude, à medida que todos aqueles que amam Cristo procuram viver a partir da sua oração pelos discípulos em João 17”, desenvolveu o responsável da comunidade, de tradição anglicana, à pergunta se Taizé é uma porta santa “informal” do Ano Santo, onde passam muitos jovens.
Ao mesmo tempo, somos de culturas e origens diferentes. Numa sociedade cada vez mais polarizada, onde o populismo e o nacionalismo estão a aumentar, gostaríamos muito que aqueles que passam pelas nossas portas vissem este sinal”.
No calendário universal deste Ano Santo destaca-se, para a juventude, o Jubileu dos Jovens, de 28 de julho a 3 de agosto, no Vaticano, e vários grupos “vão passar uma semana ou alguns dias em Taizé”, que tem “espaço para todos os que o desejarem”, a caminho de Roma ou no regresso.
“Os nossos irmãos estarão presentes na igreja de Santa Maria in Ara Coeli, perto da Piazza Venezia, e prepararão vários momentos de oração na quarta-feira, 30 de agosto, e na quinta-feira, 31 de agosto, para acolher os jovens peregrinos que desejem rezar connosco”, adiantou o prior de Taizé.
A comunidade ecuménica organiza um Encontro Europeu no final de cada ano, que em 2025 vai regressar a Paris e à Ile de France, e, para “muitos serviços de pastoral juvenil”, vai ser “uma forma de dar seguimento ao Jubileu da Juventude e de preparar a JMJ da Coreia, de agosto de 2027”.

O irmão Matthew explicou que a escolha da cidade onde é realizado este encontro europeu “é tomada por um grupo de irmãos”, que analisam “todos os aspetos”, e não depende apenas de considerações geográficas, “a última cidade ocidental a acolher o encontro (fora da pandemia) foi Madrid, em 2018”.
“Embora a França seja uma república laica, os valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade têm as suas raízes na herança cristã da Europa. Neste momento, temos de regressar cada vez mais aos ideais fundamentais que contribuíram para a construção de uma identidade comum”, assinalou.
O prior de Taizé destacou o convite “particularmente caloroso” do arcebispo Laurent Ulrich, apoiado pelos bispos de toda a província, e confirmado pelo Conselho Cristão das Igrejas de França, para além de estar “a aumentar” o número de jovens franceses que visitam a comunidade.
“Construir uma Europa aberta e acolhedora para todos, disposta a ajudar os que sofrem, pronta a manter a paz dentro das suas fronteiras e, onde for obrigada a fazê-lo, no mundo, será o cerne do nosso encontro em Paris. Ao mesmo tempo, será uma oportunidade para caminharmos juntos com os cristãos de todas as tradições e procurarmos uma abertura em relação aos crentes de outras religiões e a todas as pessoas de boa vontade”, acrescentou o irmão Matthew.
A comunidade ecuménica de Taizé nasceu a 20 de agosto de 1940, e começou por acolher perseguidos políticos, judeus e, mais tarde, prisioneiros alemães, foi fundada por Roger Schutz (1915-2005), um então jovem pastor protestante suíço; após a dramática morte do fundador, a 16 de agosto de 2005, o irmão Alois continuou esse trabalho, até 2 de dezembro de 2023.
CB/OC
![]() A comunidade monástica francesa tem há várias décadas um monge português, o irmão David que nasceu em Portalegre, mas, no dia 14 de dezembro de 2024, um jovem português recebeu o hábito de oração, durante a oração comunitária desse sábado. “O João Pedro entrou na nossa Comunidade no final do ano passado. É sempre uma alegria para os irmãos acolher novos irmãos e para mim, como português, a alegria é redobrada”, disse o irmão David, à Agência ECCLESIA. O prior de Taizé acrescentou que “é sempre uma grande alegria acolher novos irmãos na nossa comunidade”, e partilha que reza, “todos os dias, para que o Espírito Santo abra os olhos” para verem aqueles que Deus envia à comunidade. “Estamos muito gratos por acolher o jovem de Portugal que está agora connosco para o tempo de formação que conduzirá ao seu compromisso de vida, que normalmente vem depois de cinco ou seis anos na comunidade. Ele foi voluntário em Taizé há quatro anos e depois partiu para estudar. Quando terminou os seus estudos, o desejo de se tornar irmão na nossa comunidade continuava a arder dentro dele, pelo que o acolhemos com muita gratidão”, acrescentou o irmão Matthew, sobre João Pedro, o jovem português da Paróquia de Valongo, na Diocese do Porto. A Comunidade de Taizé tem cerca de 80 irmãos, de diferentes origens eclesiais – católicos, anglicanos, protestantes – de quase trinta países, a maioria dos irmãos vive na aldeia francesa, na Borgonha, e há irmãos em missão, “partilham as condições de vida de quem os rodeia na Ásia, em África, na América Latina”, lê-se na página na internet dos monges ecuménicos. “É muito enriquecedor viver numa Comunidade com uma grande diversidade de irmãos, em que a interculturalidade vivida muito concretamente no quotidiano nos obriga constantemente a alargar os horizontes e a ter em conta diferentes perspetivas e formas de ser, mas dou graças a Deus por também poder partilhar este caminho com outro irmão português”, desenvolveu o irmão David.
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