Numa altura de crise socioeconómica, projeto fundado pelo irmão Roger mostra que «há novas formas de esperança e de solidariedade a emergir»
Lisboa, 22 jan 2013 (Ecclesia) – O jornalista António Marujo diz que a Comunidade Ecuménica de Taizé, fundada há 72 anos pelo irmão Roger, representa atualmente um símbolo essencial de unidade no meio de uma sociedade em “desagregação”.
Em entrevista concedida ao Programa ECCLESIA, na RTP2, inserida na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, o especialista em informação religiosa recorda a lógica que sempre norteou o caminho daquele núcleo de irmãos, provenientes de diversos países e que professam diferentes sensibilidades cristãs.
“Em Taizé insistem muito na ideia de que o ecumenismo não é em si um objetivo mas deve ser um sinal que os cristãos dão às mulheres e aos homens do nosso tempo de que é possível viver formas de comunhão mesmo quando se pensa diferente, quando se tem ideias diferentes sobre as coisas”, realça.
Há cerca de um ano, o irmão Alois, que assumiu a coordenação do projeto de Taizé em 2005, reforçou esse desafio às comunidades de todo o mundo, sobretudo aos jovens, através de uma carta intitulada “Rumo a uma nova solidariedade”.
De acordo com Andreia Carvalho, assistente social que tem contactado muito de perto com aquela experiência de espiritualidade, o documento “aponta para a necessidade dos cristãos serem criativos na solidariedade”, de “assumirem definitivamente” a missão de transformar o mundo.
Para António Marujo, o objetivo da comunidade de Taizé, numa altura em que Portugal e muitos outros países da Europa e do mundo atravessam um período difícil a nível económico e social, é mostrar “que há novas formas de esperança e de solidariedade a emergir, e que as novas gerações trazem consigo muita vontade de construir um mundo mais justo, fraterno e solidário”.
E de facto, por causa da crise, “as pessoas estão a reinventar formas de participação democrática, formas de construção coletiva, de participação nas sociedades, nas igrejas e comunidades religiosas, formas que ultrapassam, em muito, aquilo que os líderes, os políticos, os responsáveis das instituições internacionais muitas vezes querem”, sustenta.
Conhecedor profundo da Comunidade Ecuménica de Taizé há várias décadas, o jornalista diz que se trata sobretudo de “um projeto que passa pela capacidade de beber a força interior” da fé, para depois “transmitir” essa força às pessoas, não só no plano religioso mas em muitas outras áreas da sociedade.
“Não é por acaso que o próximo encontro europeu de Taizé, em dezembro deste ano, será em Estrasburgo, que de alguma maneira é símbolo dessa Europa unida que hoje estamos a desagregar em tantas dimensões”, salienta o profissional de comunicação, que gostava que este convite de unidade chegasse ainda com mais força ao coração das comunidades cristãs em Portugal.
“Durante esta semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, o que se verifica na maior parte dos países, e aqui também em Portugal, é que existem umas iniciativas de oração em conjunto entre católicos, protestantes e ortodoxos e ponto final, o ecumenismo reduz-se a estas parcas iniciativas e muito inconsequentes”, lamenta.
Andreia Carvalho reforça esta ideia com uma análise à vivência ecuménica dos jovens portugueses, que à exceção do Fórum Ecuménico Jovem que se realiza uma vez por ano, têm acesso a poucas “iniciativas de relevo que efetivamente promovam o verdadeiro diálogo ecuménico e conhecimento entre todos”.
PTE/JCP
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