Taizé: Como 350 jovens portugueses estão a «curtir» a semana «por uma nova solidariedade»

Grupo encontrou-se com o único irmão luso que integra a comunidade ecuménica

António Marujo, jornalista do religionline.blogspot.pt, em serviço especial para a Ecclesia

Borgonha, França, 13 ago 2015 (Ecclesia) – O Pedro veio de Arouca e diz que está a “curtir” bastante o facto de estar em Taizé esta semana: “Não sou simples e quando vi que havia só uma colher para comer, perguntei-me: ‘onde é que me vim meter? Fiquei assustado, mas depois de me ensinarem como fazer, percebi que com muito pouco podemos fazer muito.”

“Quando chegar a casa vou dizer que isto é uma experiência única, até domingo vai ser algo especial.”

O testemunho deste jovem provocou muito boa disposição no encontro que, esta manhã, reuniu os 350 portugueses que estão em Taizé a participar no encontro "Por uma Nova Solidariedade".

O irmão David, o único português que integra a comunidade de Taizé, recordou as razões de ser desta semana especial na aldeia: assinalar os 75 anos da chegada do fundador, o irmão Roger Schutz, a Taizé, bem como os 100 anos do seu nascimento e os dez anos da sua morte, a 16 de Agosto de 2005.

“O irmão Roger chegou aqui com 25 anos, em 1940, durante a II Guerra Mundial”, contou o irmão David, natural de Portalegre, que veio a Taizé pela primeira vez quando tinha 16 anos. Nessa altura, não imaginava que um dia iria integrar a comunidade.

Roger Schutz, recordava ainda o único irmão português da comunidade, “tinha atravessado períodos de dúvida e incerteza, sem saber como podemos compreender Deus”. E foi depois de um período de reflexão que ele se decidiu pela importância de uma vida de comunidade.

“Com a guerra, achou que deveríamos falar de um Deus que é amor e que o testemunho dos cristãos não podia continuar a ser o de estar separados.”

Por isso, decidiu criar uma “parábola de comunhão: diferentes culturas, diferentes línguas, diferentes comunidades religiosas”, diz o irmão David.

Vivendo na Suíça, pegou numa bicicleta, atravessou a fronteira e chegou a Cluny, onde viu o anúncio de casa à venda em Taizé. A aldeia estava isolada, na França livre, poucos quilómetros a sul da linha de demarcação da França ocupada pelos nazis, a norte.

Uma idosa que convidou Roger Schutz para almoçar pediu-lhe: “Fique aqui, estamos muito sozinhos.”

“O irmão Roger entendeu esta frase como um sinal que Deus lhe deu. Durante dois anos, ficou sozinho, acolhendo refugiados. A polícia veio várias vezes mas os refugiados escondiam-se nos bosques em volta.”

Quando a Gestapo nazi quis prender o irmão Roger, ele refugiou-se na Suíça, em 1942. Voltou a Taizé no final da guerra, já com quatro irmãos.

No final dos anos 50, começaram a aparecer grupos de jovens. Os primeiros irmãos entenderam que toda a tradição monástica cristã passava pela hospitalidade. Por isso, adquiriram uma casa em Cormatin, uma aldeia vizinha, para acolher os jovens, que vinham depois a Taizé, participar nas orações da comunidade.

A partir daí, foi um crescendo, até chegar aos milhares de jovens que, actualmente, chegam a Taizé em cada semana para viver um tempo de oração, partilha e simplicidade.

Uma experiência que, como dizia Madalena, de Mafra, é “individual, mas sempre vivida em conjunto, pelo menos por duas pessoas: eu e a pessoa de Jesus”.

Taizé é ainda uma experiência onde, como dizia o irmão Alcides, da Bolívia, também presente no encontro com os portugueses, se aprende que, “mesmo sem palavras, se pode aprender a rezar”. O irmão Alcides está na comunidade desde 2004.

Para Diogo, de Portalegre, estando em Taizé a primeira vez, foi importante conhecer e ouvir directamente o testemunho de refugiados. “Não temos noção de como é viver com refugiados e contactar com eles.”

Para Bela, de Guimarães, Taizé “é totalmente diferente: posso deitar-me no chão, toda a gente tem espaço para falar com Deus”. E José, de Coimbra, que está em Taizé durante algumas semanas a fazer voluntariado, o importante é “nunca deixar de acreditar, lutar, fazer a diferença, remar contra a maré”.

O patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que acompanha em Taizé, durante esta semana, um grupo de 50 jovens do patriarcado, sintetizou o que alguns dos jovens disseram em testemunho.

“Taizé tem desenvolvido na vida das Igrejas duas dimensões essenciais na vida cristã: reproduzir na sua vida a vida de Jesus Cristo, na relação filial com Deus; e, se sentimos Deus como pai, sentimos que todos os outros são irmãos, pois não há relação com Deus que não passe pela relação com os irmãos.”

Respondendo a uma pergunta da irmã Maria João Neves, que criou a Casa de Betânia para acolher pessoas com deficiência mental, o cardeal acrescentou que as comunidades cristãs têm de acolher todas as pessoas e ir buscar os que estão isolados, como os idosos.

(o autor escreve segundo a anterior norma ortográfica)

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Agência ECCLESIA

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