Taizé: As peregrinações cristãs pelo clima já começaram e querem chegar a Paris

Chegada prevista à capital francesa antes de 1 de Dezembro

António Marujo, jornalista do religionline.blogspot.pt em serviço especial para a Ecclesia

Borgonha, França, 15 ago 2015 (Ecclesia) – Uma peregrinação de cristãos pelo clima começou a 7 de Junho, na Escandinávia. Depois de passar na Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca e Alemanha, chegará a Paris, antes de 1 de Dezembro, quando começa a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima.

Em breve, juntar-se-ão a esta iniciativa inédita cristãos do Reino Unido, que atravessarão o Canal da Mancha, e um outro grupo que sairá da Itália, integrando também cristãos filipinos.

“O número de participantes pelo caminho será muito variável, mas é um símbolo importante do que os cristãos podem fazer”, diz à Agência ECCLESIA o francês Martin Kopp, da Federação Luterana Mundial (FLM), que reúne 145 igrejas e comunidades de 98 países, juntando 72 milhões de luteranos de todo o mundo.

Martin Kopp, 28 anos, está a fazer doutoramento em teologia na área do decrescimento. No âmbito da FLM, coordena desde há mais de um ano as estruturas e iniciativas no âmbito ambiental.

Kopp está em Taizé estes dias, para participar num dos debates do encontro Por uma Nova Solidariedade, que inclui centena e meia de fóruns.

Outra das iniciativas em preparação a propósito da Cimeira de Paris é a recolha de assinaturas para uma petição, ideia da Act Alliance, organização protestante, e da Global Catholic Climate Mouvement, que reúne organizações católicas de defesa do meio ambiente.

O objectivo, diz Martin Kopp, é entregar centenas de milhar de assinaturas às autoridades políticas.

O texto, com o apoio explícito do Papa (disponível aqui http://catholicclimatemovement.global/petition/), diz: “A mudança climática afecta a todos, mas principalmente aos mais pobres e vulneráveis entre nós. Inspirados pelo Papa Francisco e a encíclica Laudato Si’, imploramos que reduzam drasticamente as emissões de carbono para que o aumento da temperatura global não supere o perigoso nível de 1,5° C, e que ajudem os países mais pobres para que resistam aos impactos da mudança climática.”

Uma terceira iniciativa promovida pela FLM, alargada a outras instâncias, é um jejum pelo clima, no primeiro dia de cada mês. Iniciado em Junho, é uma acção “inter-conviccional”, diz Martin Kopp, justificando com o facto de estarem envolvidos crentes de diferentes religiões, bem como ateus e agnósticos.

A 1 de Dezembro, o jejum mensal terá uma edição dentro da própria conferência de Paris, ao mesmo tempo que, nas ruas da capital francesa, haverá uma refeição “boa para o clima”.

No dia 1 de Julho, coincidindo com o jejum, uma declaração inter-religiosa sobre o tema, assinada por líderes cristãos de diferentes igrejas, judeus, muçulmanos, budistas e outros, foi entregue ao Presidente francês, François Hollande.

Martin Kopp valoriza positivamente a encíclica do Papa sobre o tema. A Laudato Si’ foi “publicada no tempo certo”, diz. “É um texto muito forte, que se dirige a cada pessoa e faz um diagnóstico claro sobre o que se passa, da responsabilidade das actividades humanas nas alterações climáticas.”

Martin Kopp acredita que, como diz o Papa, “é preciso mudar completamente o paradigma do modelo de desenvolvimento”. O problema é “espiritual e moral” e não tanto financeiro ou técnico.

As igrejas têm também um papel nesta matéria, acrescenta. Há já experiências de igrejas “verdes, ecologicamente responsáveis” e que tentam fazer coincidir o discurso com o que fazem, também na área da ecologia.

O encontro Por uma Nova Solidariedade, que termina amanhã, domingo, em Taizé, é organizado pela comunidade que reúne uma centena de monges católicos de diferentes origens protestantes.

A presença de Martin Kopp em Taizé, diz o próprio, tem muito a ver com o seu projecto de doutoramento: “Trata-se de redescobrir a simplicidade cristã, que se vive aqui em Taizé”, diz.

O encontro culmina um ano em que se assinalam o centenário do nascimento do fundador da comunidade, o irmão Roger, bem como os 75 anos da sua chegada à pequena aldeia da Borgonha e os dez anos da sua morte, a 16 de Agosto de 2005.

(o autor escreve segundo a anterior norma ortográfica)

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Agência ECCLESIA

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