«Dramaticamente para estas populações, quase não se fala desta situação», lamenta
Lisboa, 11 jul 2024 (Ecclesia) – A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (FAIS) alertou para crise humanitária que o conflito no Sudão está a provocar, deixando um rasto de milhares de mortos e milhões de refugiados e deslocados.
“É uma das guerras esquecidas no mundo. O conflito armado no Sudão, que começou em abril do ano passado e que é, na verdade, uma guerra entre dois generais, já causou milhares de mortos e milhões de deslocados e refugiados”, escreve o jornalista Paulo Aido, elemento do secretariado português da AIS, no artigo semanal, publicado na Agência ECCLESIA.
Estima-se que já poderão ter morrido cerca de 15 mil pessoas e cerca 10,7 milhões estejam na condição de deslocados e refugiados, “o que significa uma das maiores crises humanitárias no planetas”, assinala a organização pontifícia.
“Dramaticamente para estas populações, quase não se fala desta situação pelo que esta é, de facto, uma das guerras esquecidas no mundo”, sublinha.
Apesar de estar fora do âmbito mediático, o conflito tem recebido o olhar do Papa, que no dia 2 de junho, no final da recitação do ângelus, pediu para rezar pelo Sudão, “onde a guerra que dura há mais de um ano ainda não encontrou uma solução de paz”.
“Silenciem as armas e, com o empenho das autoridades locais e da comunidade internacional, levem ajuda à população e aos muitos deslocados; que os refugiados sudaneses encontrem acolhimento e proteção nos países vizinhos”, pediu Francisco.
“Um cenário de pesadelo”, diz o Comité Permanente Interagência da ONU, citado pelo Vatican News, que vai alastrar a fome por toda a região.
De acordo com o portal de informação da Santa Sé, “cada vez mais pessoas fugirão para os países vizinhos em busca de meios de subsistência e segurança”, pelo que “muitas crianças sofrerão com doenças e desnutrição”.
No país, “18 milhões de pessoas passam fome e 3,6 milhões de crianças sofrem de desnutrição”, informa.
O Sudão do Sul é um dos países que mais tem acolhido refugiados, na sequência da guerra e da fuga de populações, destaca a FAIS, que acrescenta que este “é também um país muito pobre e que precisa agora de ajuda para acolher o elevado número de pessoas que cruzam a fronteira”.
De modo a contribuir para fazer face à situação e aos apelos da Igreja do Sudão do Sul, a AIS lançou uma campanha de sensibilização aos benfeitores e amigos em Portugal “para a necessidade de ajuda de emergência para todas estas vítimas da guerra”.
“A guerra no vizinho Sudão está a provocar uma crise humanitária sem precedentes, obrigando milhares de pessoas a fugir. Estas famílias, despojadas de tudo, procuram agora refúgio e esperança no Sudão do Sul, país onde falta quase tudo. E é aqui que a Igreja e a Fundação AIS entram em ação”, refere a diretora do secretariado português da AIS na carta enviada aos benfeitores, salientando esta “como uma das fases mais desafiantes” da “curta história” do país. O arcebispo de Juba, diocese da capital do Sudão do Sul, dá conta de “necessidades gigantescas”. “Por favor, venham em ajuda destas pessoas deslocadas que não têm comida, não têm água, não têm tendas nem bens de primeira necessidade”, apelou D. Stephan Ameyu, mencionando ainda que todos os refugiados que cruzaram a fronteira “deixaram tudo para trás, fugindo para salvar a vida.” A organização pontifícia realça que “muitos destes refugiados estão agora em campos de acolhimento onde as necessidades são enormes”, justificando assim o lançamento da campanha. “Um dos campos de refugiados está situado em Malakal e a Fundação AIS procura auxiliar a sobrevivência imediata de cerca de 500 famílias, o que significa, na prática, aproximadamente 3 mil pessoas, na sua maioria mulheres e crianças”. Segundo o boletim enviado aos benfeitores portugueses da organização, “este projeto é mais do que uma resposta humanitária. Pode ser mesmo a última oportunidade para oferecer esperança, dignidade e a possibilidade de um recomeço de vida a todos estes refugiados”. |
Preocupada com a situação no Sudão, a comunidade católica de Santo Egídio promoveu hoje, em Roma, uma conferência de imprensa para denunciar a catástrofe humanitária.
Marco Impagliazzo, presidente da Comunidade de Sant’Egidio, alertou para a grave situação “política e humanitária”, após um “longo período de instabilidade” e dois golpes de Estado, nos anos passados.
“Desde 15 de abril de 2023, o Sudão mergulhou na crise mais grave da sua história, uma guerra civil em todo o seu território”, indicou aos jornalistas, apelando a um “cessar-fogo humanitário imediato”.
O responsável apelou à comunidade internacional, para que intervenha junto dos beligerantes, visando a distribuição de ajuda humanitária “sem restrições, em todo o território nacional”.
“Estamos aqui também para incentivar a recolha de fundos para ajuda humanitário, destinada à população que sofre, particularmente para quem hoje passa fome, um dos maiores problemas desta crise humana”, indicou.
O padre Angelo Giorgetti, ecónomo-geral dos Missionários Combonianos; Vittorio Oppizzi, chefe dos programas no Sudão dos Médicos Sem Fronteiras; Pietro Parrino, diretor do Departamento de Projetos de Emergência da da EMERGENCY; e a irmã Ruth del Pilar Mora, conselheira paras as missões do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (Salesianas) foram os intervenientes.
LJ/OC
Notícia atualizada às 15h40