Papa deixa votos de paz para novo país africano, que superou guerra civil de décadas, com dois milhões de mortos
Cidade do Vaticano, 09 jul 2011 (Ecclesia) – Uma delegação oficial do Vaticano, enviada por Bento XVI, marcou hoje presença na cerimónia de proclamação da independência do Sudão do Sul, deixando votos de “paz e prosperidade” para o novo país.
A República africana proclamou a independência numa cerimónia que decorreu na capital, Juba, perante as delegações de 80 países, com 30 chefes de Estado, e Salva Kiir prestou juramento como primeiro presidente sul-sudanês.
O Papa quis “dirigir às autoridades do novo Estado e a todos os seus cidadãos, muitos dos quais são católicos, votos de paz e de prosperidade”.
A delegaçãodo Vaticano era liderada pelo cardeal John Njue, arcebispo de Nairobi (Quénia), integrando o núncio apostólico [embaixador] no Sudão, D. Leo Boccardi, e o seu secretário, D. Javier Herrera Corona.
Portugal foi representado na cerimónia desta manhã através do embaixador António Monteiro, que colaborou com a ONU no referendo.
A Santa Sé pede à comunidade internacional que apoie o Sudão e o Sudão do Sul “para que, num diálogo franco, pacífico e construtivo, encontrem soluções justas e equilibradas para as questões ainda por resolver”, desejando para as populações “um caminho de paz, de liberdade e de desenvolvimento”.
A 193ª nação do mundo tornou-se oficialmente independente após cinco décadas de conflito com o regime de Cartum (Sudão) e uma guerra civil que deixou dois milhões de mortos, mas continuam por resolver questões como a demarcação de fronteiras, a partilha das receitas do petróleo e a situação dos cidadãos sul-sudaneses que residem no Norte.
Um referendo sobre a independência do Sudão do Sul decorreu entre 9 e 15 de janeiro deste ano, abrindo caminho para a independência do território meridional, com cerca de 9 milhões de habitantes, maioritariamente cristão, ao contrário do norte, onde a maioria muçulmana tem levado a cabo um processo de islamização da sociedade.
Esta quinta-feira, o arcebispo Dominique Mamberti, secretário do Vaticano para as relações com os Estados, recebeu uma delegação parlamentar do Sudão, guiada por Ahmed Ibrahim Elthair, presidente da Assembleia.
Nesse encontro, o número dois da diplomacia da Santa Sé pediu “paz, reconciliação e o respeito pelos direitos de todos, em particular pela liberdade religiosa”.
A Santa Sé tem relações diplomáticas com o Sudão desde 1972 e anuncia a intenção de “examinar, com a devida consideração, um eventual pedido do Sudão do Sul” para o estabelecimento das mesmas.
Em Portugal, a fundação católica Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) refere que “continuam a existir violências inimagináveis e ataques inqualificáveis contra a Igreja” na região.
Neste momento, continuam a ser disputados os territórios de Abyei (rico em petróleo) e do sul Kordofan (habitado pela população Nuba, que não aceita permanecer sob o governo de Cartum).
É contra esta população, segundo a AIS, que a violência “poderá continuar, e até aumentar, apesar da divisão do país”, com destruição de locais de culto e perseguição aos cristãos.
Cerca de 300 mil pessoas dirigiram-se para sul desde outubro, esperando-se que este fluxo continue nos próximos meses, no meio de conflitos que fizeram deste ano o mais mortífero no Sudão desde que em 2005 foram assinados os tratados de paz.
Com uma área semelhante à da Península Ibérica, o novo país tem fronteiras a leste com a Etiópia, a sul com o Quénia e o Uganda e a oeste com a República Democrática do Congo e a República Centro-Africana.
OC
Notícia atualizada às 14h08