Sudão do Sul: Igreja prepara-se para a independência

Organizações católicas são pólo agregador da população e envolvem-se em projetos de desenvolvimento social

Lisboa, 08 abr 2011 (Ecclesia) – A Igreja católica no Sudão do Sul, território africano que a 9 de julho se vai tornar o mais novo país do mundo, foi uma das instituições que mais contribuiu para a sua independência.

“Como em Timor, a Igreja funcionou como um pólo agregador da população e de resistência, ao mesmo tempo que se envolvia em projetos de desenvolvimento social”, afirmou à Agência ECCLESIA a diretora executiva da Fundação Evangelização e Culturas (FEC), Susana Réfega.

A responsável, que em março visitou a capital da região, Juba, para conhecer iniciativas que possam vir a ser apoiadas pelo organismo que dirige, realçou que “a Igreja teve um papel muito importante por ter sido resistência durante muito tempo”.

Além de questionar a tentativa de impor a Sharia (lei islâmica), Susana Réfega considera que os católicos foram determinantes na mobilização para o referendo realizado em janeiro, que resultou na decisão de criar um novo estado.

O Sudão do Sul, cuja maioria dos 8,5 milhões de habitantes é cristã (o Norte é predominantemente muçulmano), vai ocupar uma área seis vezes maior do que a superfície de Portugal continental.

Susana Réfega salientou também a ação dos católicos na consolidação da paz e da identidade nacional, num estado “muito marcado pela guerra civil que durou muitos anos, e por isso tem feridas a cicatrizar”.

O conflito que desde fevereiro de 2003 atinge o Darfur, na região ocidental do Sudão, é descrito pela ONU como uma das piores crises humanitárias, que além de ter causado 400 mil mortos, destruiu aldeias inteiras e atingiu cerca de 3.6 milhões de pessoas.

A ONU anunciou esta quarta-feira a morte de um membro da Unamid, força que reúne elementos das Nações Unidas e da União Africana, depois de uma emboscada a uma coluna daquela organização.

O país é habitado por “muitas etnias, que tinham em comum estarem contra qualquer coisa, mas agora corre-se o risco de fragmentação”, explicou Susana Réfega, acrescentando que “neste período de transição coloca-se a questão de saber qual o papel que a Igreja vai ter num estado independente”.

Durante os dez dias em que esteve no Sudão do Sul, acompanhada por dois membros da FEC, a responsável testemunhou algumas das dificuldades que a ajuda internacional tem de enfrentar: “Não é um país fácil em termos logísticos”.

“As distâncias são enormes e as deslocações são muito complicadas. E não fomos na época das chuvas, quando é muito difícil viajar por via terrestre”, disse a dirigente, que ficou sensibilizada durante uma missa celebrada num bairro da periferia de Juba.

“Marcou-me ser uma comunidade muito jovem, com a maioria das pessoas a ter seguramente menos de 30 anos, ao contrário do que sucede nas nossas paróquias”, referiu Susana Réfega, que também salientou a “beleza” da celebração e o “dinamismo” dos fiéis.

Uma das imagens mais fortes que a diretora executiva trouxe do território, como “uma fotografia que se repetiu com rostos diferentes”, foi o “orgulho” quanto à forma como decorreu o referendo.

A “lição de civismo, e com uma tão elevada participação, nomeadamente das mulheres”, onde havia dúvidas sobre a adesão, “dá uma certa esperança a um país que é complexo e vai enfrentar muitos desafios”, assinalou a responsável.

RM

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