Sudão do Sul: Francisco denuncia «maior crise de refugiados» da África

Papa encontra-se com deslocados internos, apelando à implementação dos acordos de paz

Foto: ACNUR

Juba, 04 fev 2023 (Ecclesia) – O Papa encontrou-se hoje deslocados internos do Sudão do Sul no ‘Freedom Hall’, de Juba, junto dos quais denunciou o “maior crise de refugiados do continente” africano, apelando ao fim da guerra no país.

“Aqui perdura a maior crise de refugiados do continente, pelo menos com quatro milhões de desalojados, filhos desta terra, com a insegurança alimentar e desnutrição que afetam dois terços da população e com previsões que falam duma tragédia humana que se pode agravar ainda mais, no curso do ano”, alertou, na terceira intervenção da sua visita, iniciada na sexta-feira.

Dirigindo-se aos responsáveis políticos, da sociedade civil e da comunidade internacional, Francisco sustentou que “não se pode esperar mais”.

“Um número enorme de crianças nascidas nos últimos anos só conheceu a realidade dos campos de desalojados, esquecendo-se do ambiente de casa, perdendo a ligação com a própria terra de origem, com as raízes, com as tradições”, lamentou.

O encontro começou com a projeção de um vídeo comentado pela vice-representante especial de António Guterres para a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, Sara Beysolow Nyanti, e com o testemunho de crianças que fazem parte das milhares de pessoas a viver em campos de refugiados na capital do país africano.

“O futuro não pode ser nos campos de desalojados. É preciso – justamente como pedias tu, Johnson – que todos os rapazes como tu tenham a possibilidade de ir à escola e também o espaço para jogar futebol”, disse o Papa, após ouvir estes testemunhos.

Num discurso em italiano, traduzido por um sacerdote para o inglês, Francisco alertou para as consequências da violência e das catástrofes naturais sobre a população do Sudão do Sul, independente desde 2011.

“Milhões dos nossos irmãos e irmãs como vós, incluindo tantas mães com os filhos, tiveram de deixar as suas terras e abandonar as suas aldeias, as suas casas. Infelizmente, neste martirizado país, ser desalojado ou refugiado tornou-se uma experiência habitual e coletiva”, declarou.

Renovo com todas as forças o mais sentido apelo para que se façam cessar todos os conflitos, se retome seriamente o processo de paz, para que acabem as violências e o povo possa voltar a viver dignamente. Só com a paz, a estabilidade e a justiça poderá haver desenvolvimento e reintegração social”.

Sete meses após a data inicialmente prevista para a viagem – adiada por causa de problemas de saúde do Papa -, Francisco tornou-se o primeiro pontífice católico a visitar o Sudão do Sul.

Foto:Vatican Media

A “peregrinação ecuménica pela paz”, como é oficialmente designada, conta com a participação do arcebispo da Cantuária e líder da Igreja Anglicana, Justin Welby, e do moderador da Assembleia-Geral da Igreja da Escócia (Igreja Presbiteriana), pastor Iain Greenshields.

Francisco convidou à superação das tensões, rejeitando a “marginalização de grupos e o levantamento de guetos dos seres humanos”.

“Por favor, protegei, respeitai, valorizai e honrai toda a mulher, menina, adolescente, jovem, adulta, mãe, avó. Sem isso, não haverá futuro”, apontou.

O discurso deixou um agradecimento particular ao trabalho de Sara Beysolow Nyanti e aos de todos os que estão junto da população, aos missionários, às organizações humanitárias e internacionais, em particular às Nações Unidas, homenageando os agentes humanitários que perderam a vida, nesta missão.

O Papa falou dos presentes como “semente dum novo Sudão do Sul”, que conte com todas as etnias, sem “responder ao mal com o mal”.

“Os jovens crescem aprendendo com as histórias dos idosos e, se a narrativa dos últimos anos aparece caraterizada pela violência, é possível – aliás, é necessário – inaugurar, a partir de vós, uma nova: uma nova narrativa do encontro, onde aquilo que se sofreu não fique esquecido, mas seja habitado pela luz da fraternidade”, apelou.

A todos peço, com o coração nas mãos: ajudemos o Sudão do Sul, não deixemos sozinha a sua população, que tanto sofreu e continua a sofrer”.

Após este encontro, Francisco, Wleby e Greenshields dirigem-se para o Mausoléu ‘John Garang’, que acolhe uma oração ecuménica.

OC

 

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Agência ECCLESIA

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