Sudão do Sul: «A guerra civil pode regressar a qualquer momento», alerta religiosa portuguesa missionária em Wau

Irmã Beta Almendra relata cenário de insegurança e fome no país, onde desenvolve missão há quatro anos e meio

Foto: ACN

Lisboa, 01 jul 2025 (Ecclesia) – A irmã Elisabete Almendra, missionária comboniana em missão na Diocese de Wau, no Sudão do Sul, alerta que “a guerra civil pode regressar a qualquer momento” ao país.

“A situação no Sudão do Sul está muito, muito insegura”, afirmou a religiosa portuguesa à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) em Lisboa, numa breve pausa do trabalho missionário que desenvolve no país, em declarações divulgadas hoje.

A comboniana explica que na origem do conflito está a questão étnica, assinalando que “esta é uma situação muito clara”.

“O presidente é de uma tribo e o vice-presidente é de outra tribo e são as duas maiores tribos do país, as que têm mais força”, contextualizou a irmã Beta Almendra, acrescentando que “são inimigos por natureza”.

O Sudão do Sul, que ganhou a independência em 2011 e continua a ser o país mais novo do mundo, tem uma história marcada pela violência da guerra que, na verdade, é um conflito com raízes étnicas, entre as forças leais ao presidente Salva Kiir, da etnia Dinka, e ao vice-presidente Riek Machar, que pertence ao povo Nuer, assinala a FAIS.

Além da ameaça do regresso da guerra, o país tem vindo a acolher milhares de pessoas que atravessam a fronteira e que fogem elas próprias do conflito que está a consumir o vizinho Sudão.

A pobreza é uma realidade na Diocese de Wau, onde muitas pessoas conseguem apenas fazer uma refeição por dia, como conhecem de perto as irmãs combonianas que, muitas vezes, sentem elas próprias a impotência de quem não tem também muito pouco para oferecer.

“Tentamos dar sempre um pedaço de pão… Quando era a altura dos mangos, andávamos a apanhar mangas para dar. Não era a quantidade [suficiente] para ajudar a família, porque muita gente vem e pede ajuda também para a família, mas sempre havia alguma coisa para dar, um quilo de açúcar ou algo assim”, relatou a irmã Beta Almendra.

A comboniana garante que “ninguém vai de mãos vazias”, realçando que ainda assim a “realidade é muito dura”.

Apesar dos problemas e das dificuldades, a irmã Almendra faz um balanço positivo dos quatro anos e meio que leva já de missão no Sudão do Sul: ““Sou muito feliz por ser missionária”.

Foto: Agência ECCLESIA/MC

“Mesmo quando estamos no meio de grandes dramas humanitários, Nosso Senhor dá-nos realmente força. Dá-nos a força. Dá-nos a força para estarmos e estarmos bem e a não querermos outra vida”, destaca.

A religiosa portuguesa está empenhada em diversos projetos, alguns apoiados pela Fundação AIS, nomeadamente ao nível da pastoral familiar, e que envolvem meninas e mulheres.

“A grande diferença é este amar, estarmos ali presentes com amor. É só isso, é só isso. É preciso escolas, hospitais, mas realmente precisamos de ouvir, de escutar, de dar um abraço. Podemos resolver problemas, fazer um hospital construir uma escola… mas no fundo o importante é estarmos com o povo”, referiu.

Segundo a AIS, o exemplo da irmã Beta Almendra tem ajudado a contagiar sorrisos que ajudam a trazer novas vocações para a Igreja.

“No Sudão do Sul há vocações, há jovens que querem ser padres e freiras, e a Igreja local tem que crescer, e nós estamos lá para isso, para ajudar a Igreja a acrescer. Nós somos pontes, os missionários são pontes que ajudam estas coisas a acontecer…”, indicou.

LJ/OC

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