Um bispo católico de Cartum informou que as alegações de manipulação nas eleições do Sudão podem originar uma grave disputa política, juntamente com a preocupação crescente de que o voto poderá bloquear ao país o caminho para a democracia.
Referindo-se aos contínuos relatórios de mau desempenho e incompetência eleitoral, bem como à desistência de última hora de partidos e candidatos, D. Daniel Adwok Kur afirmou que existe o perigo das pessoas perderem a confiança no processo político.
D. Daniel Adwok salientou o crescente alarme relativamente a relatórios não confirmados, oriundos de diversas regiões do país, com acusações de má organização dos registos e estações eleitorais, intimidação de eleitores e outras irregularidades, incluindo a manipulação de votos por parte do Partido do Congresso Nacional, o partido regente em Cartum.
Ao ser entrevistado na capital do Sudão pela AIS, o Bispo Auxiliar de Cartum afirmou: “Os relatórios que divulgam irregularidades fazem-nos duvidar de que estas eleições possam ser consideradas ‘livres e justas’.”
As eleições tiveram lugar no domingo, dia 11 de Abril, pela primeira vez no Sudão a nível nacional desde 1986, o que é considerado um antecedente fundamental do grande referendo no próximo mês de Janeiro, através do qual os habitantes do Sul irão decidir se continuarão a fazer parte do Sudão unido ou se irão criar um novo país.
Ao constatar que os atrasos das eleições irão por sua vez adiar o resultado final até ao final da próxima semana, D. Adwok manifestou uma grande preocupação de que as eleições não cumpram as recomendações do desenvolvimento político do país estabelecidas no Acordo de Paz (CPA).
Vinte após o fim da Guerra civil, o Acordo de Paz de Janeiro, assinado em 2005, prevê a partilha temporária de poder entre o Governo Islâmico sedeado em Cartum e o Exército de Libertação do Povo do Sudão (SPLA), o movimento rebelde do Sul.
Salientando a importância das eleições como parte de um processo que conduz a uma potencial separação entre o Sul e o Norte do Sudão, D. Adwok afirmou: “É nosso dever perguntar se estas eleições podem realmente trazer ao povo a transformação democrática que o CPA prometeu.”
O bispo auxiliar, estabelecido na região pastoral de Kosti, cidade situada a 160 km a Sul da capital, disse: “Quando os resultados das eleições forem divulgados, é muito possível que haja alguma tensão e confrontos entre as duas partes. A justiça eleitoral será certamente uma questão a ser levantada.”
Salientando que a desistência de candidatos tinha sido uma enorme desilusão para muitos eleitores, acrescentou: “Para nós, aqui no Norte, parece-nos que faltaram candidatos que desejassem promover uma visão do Sudão que seja multicultural, multilingue, multirracial, multiétnica e multirreligiosa, tal como a Constituição provisória declara.”
“As pessoas desejam unidade na diversidade,” acrescenta.
De acordo com este bispo, há muitas pessoas que ficaram desiludidas com o facto do Movimento de Libertação do Povo do Sudão (SPLM) ter retirado a sua candidatura no Norte do país.
“Depois do SPLM se ter retirado, as pessoas em Kosti, incluindo os cristãos, têm-se questionado sobre o que deverão fazer.”
Mas ressalta que, apesar das contrariedades, as pessoas estavam determinadas a votar. “A atitude das pessoas é um sinal muito evidente de que querem estas eleições. Querem que haja uma verdadeira transformação democrática, após anos de ditadura militar no Norte. No Sul, querem a liberdade de decidir o seu futuro no próximo referendo de 2011.”
Apesar das preocupações relativamente a um retrocesso político após as eleições, D. Adwok deixou claro que um regresso ao conflito era improvável, pelo menos por enquanto, dizendo que o grande teste viria em Janeiro com o referendo que poderá conduzir à separação do Sul.
D. Adwok afirmou: “Estas eleições são um teste prévio ao referendo. Permitir-nos-á ver com os próprios olhos o desempenho dos candidatos eleitos até Janeiro”.
Departamento de Informação da Fundação AIS