Sudão: Bispo reprova a emissão de mandato de captura do presidente

Sem rodeios, o porta-voz dos Bispos do Sudão afirma que a solução dos problemas do país passa pelo fim dos abusos aos direitos humanos e não pela queda do presidente Com milhares de apoiantes a amontoarem-se nas ruas, manifestando o seu apoio a Omar al Bashir, o bispo D. Daniel Adwok Kur convidou a comunidade internacional a rezar para que o país vire a página e garanta o respeito por todas as comunidades, sem olhar às diferenças étnicas e religiosas. Mas, fundamentalmente, o Bispo Auxiliar de Cartum afirmou que agora não é o momento de considerar uma mudança de líder, explicando que isso poderia pôr em perigo o frágil processo de paz, especialmente no que diz respeito ao Sul do Sudão. As suas observações, feitas numa entrevista à AIS, surgem após o Tribunal Criminal Internacional (ICC) em The Hague ter emitido, a semana passada, um mandato de captura para Bashir, acusando-o de crimes de guerra e contra a humanidade no Darfur, Sudão. Falando a partir de Cartum, D. Adwok afirmou: “A acusação do presidente não é um assunto que o presidente ou as pessoas que o rodeiam tomem de ânimo leve. Retirá-lo poderia criar obstáculos no processo de paz, inclusive no Sul do país.” E continuou: “Apelamos às pessoas, em todo o mundo, que rezem por nós. O Sudão entrou num período crítico da sua história.” Há mais de quatro anos que uma paz incerta se instalou após o acordo de paz, negociado pelo Governo de Cartum e líderes rebeldes do Sul, ter trazido o fim a 25 anos de guerra civil. A tensão na região aumenta, à medida que se aproxima o referendo à independência do Sul, previsto para daqui a dois anos. D. Adwok disse: “Aconteça o que acontecer, as pessoas deveriam ser tratadas com justiça. Perguntamo-nos ‘Quem irá defender os direitos dos cristãos no nosso país?’.” O bispo apelou ao fim dos abusos contra as minorias, incluindo os cristãos, e disse: “Há muito tempo que há abusos aos direitos humanos e agora temos de ultrapassar essa situação.” E acrescentou: “Acima de tudo, deve manter-se a justiça para com o povo. São pessoas inocentes que têm sofrido devido às suas origens étnicas, religiosas ou cultura.” Os comentários de D. Adwok vêm no seguimento de D. Rudolf Deng, presidente da Conferência Episcopal do Sudão, ter feito um comunicado informando que a detenção do presidente Bashir apenas iria criar mais tensão no país. Na mensagem que deixou à Catholic Information Service for Africa (CISA), D. Deng escreveu: “Aquilo de que precisamos é de mais sinceridade por parte dos líderes e dos rebeldes, e uma dedicação mais séria por parte da comunidade internacional para salvar o Sudão.” Na entrevista à AIS, D. Adwok sublinhou que o trabalho da Instituição no Sudão, apoiando sacerdotes, religiosas e crianças, não seria afectado pela crescente tensão em Cartum. O presidente Bashir reagiu à notícia do mandato de captura anunciando a expulsão de 13 agências de ajuda, gesto este que deu origem a uma onda de protesto internacional. A AIS, cujo apoio ao Sudão inclui ajuda aos seminaristas, religiosas, catequistas, estipêndios de Missa, bíblias para crianças e escolas Save the Saveable em Cartum, trabalha directamente com os agentes pastorais no terreno e estão em estreita ligação com os responsáveis dos departamentos de projectos da Instituição. D. Adwok afirmou: “A ajuda proporcionada pela AIS é fundamental para o desenvolvimento da Igreja no Sudão. Gostaria de agradecer a todos os que nos ajudaram, especialmente nestes tempos de grande tensão e dificuldades.” Departamento de Informação da Fundação AIS

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