Sudão: «Ainda há esperança»

Mesmo depois da morte do Vice-Presidente John Garang, o processo de paz no Sudão irá continuar. Esta foi a opinião do Cardeal Gabriel Zubeir Wako de Cartum, numa conferência de imprensa realizada em Colónia, na Alemanha, organizada pela Ajuda à Igreja que Sofre. Embora a desconfiança e a violência latente entre muçulmanos do Norte e maioria cristã e animista do Sul ainda seja muito grande, ele reconheceu que não é uma situação sem esperança e que está assegurado que a mensagem de paz e esperança de John Garang seja seguida pelos seus sucessores. O Cardeal Wako considerou os próximos anos como decisivos, ainda que paire a sombra da secessão entre o Norte e o Sul. Muito irá depender da forma como as matérias-primas, provenientes das reservas minerais, serão distribuídas e o respeito pelos direitos humanos. É necessário apoiar os partidos que estão seriamente empenhados na democracia e nos direitos humanos. Com o retorno dos refugiados, é importante restabelecer a presença da Igreja no Sul. “As pessoas irão onde quer que esteja a Igreja porque sabem que aí serão ajudadas” disse o Cardeal Wako. O Bispo Auxiliar de Limburg, Gerhard Pieschel, membro do Comité para as Relações Internacionais da Conferência Episcopal Alemã, deu ênfase ao empenho da Igreja Católica Sudanesa pela paz e justiça sem o qual, “nunca teria sido possível o tratado de paz”. D. Pieschel lembrou os presentes que a situação nos campos de refugiados de Darfour ainda é dramática e marcada por “contínuos actos criminosos” e apelou a todos os cristãos e ao público em geral, maior interesse e solidariedade com o Sudão. Esta é também uma forma de “encontro cristão” como aquele que tem acontecido nas Jornadas Mundiais da Juventude em Colónia com dezenas de milhar de jovens. Christine du Coudray, responsável pelo sector africano da Ajuda à Igreja que Sofre, destacou a importância de ouvir a Igreja do Sudão de maneira a melhor responder às suas necessidades e ajudar a estabelecer as estruturas eclesiais. O apoio ao Sudão é a maior prioridade da Ajuda à Igreja que Sofre em África, que só em 2003 entregou 1.8 milhões de Euros para a Igreja Católica local. John Garang nasceu no Sul do Sudão em 1945 e morreu em 30 de Julho num acidente de helicóptero com causa ainda indeterminada. A seguir à sua morte, violentos motins irromperam na capital de Cartum. Garang foi um dos fundadores do Exército de Libertação do Povo Sudanês, ELPS (SPLA), que durante 21 anos lutou uma guerra civil pela independência do sul contra o regime de Cartum. Um conflito motivado pela resistência às tentativas de imposição, às populações maioritariamente cristãs e animistas do Sul, do islamismo e da lei da Sharia. Um motivo de disputa posterior prendeu-se com o controlo das grandes reservas de petróleo encontradas nas províncias do Sul. Este conflito, a decorrer desde 1983, teve o seu final apenas a 9 de Janeiro deste ano com a assinatura de um tratado de paz em Nairobi, no Quénia. A 9 de Julho, John Garang era nomeado como o primeiro Vice-Presidente do Sudão. De acordo com as estimativas da Ajuda à Igreja que Sofre, esta guerra civil ceifou mais de 2 milhões e meio de vidas e forçou mais de 5 milhões a abandonarem as suas casas e a fugirem. O Sudão tem uma população de 33 milhões de pessoas divididas por 572 tribos. No Norte os Árabes e muçulmanos (70%) constituem o grupo maioritário enquanto no Sul do país a população é constituída, principalmente, por cristãos (19%) e animistas de religiões tradicionais.

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