Sri Lanka: Francisco canonizou padre José Vaz, português de Goa

Missionário dos séculos XVII-XVIII apresentado como exemplo de diálogo e tolerância

Colombo, 14 jan 2015 (Ecclesia) – O Papa canonizou hoje no Sri Lanka o padre José Vaz, nascido em Goa, então território português, a 21 de abril de 1651, numa celebração que reuniu centenas de milhares de pessoas.

Uma salva de palmas e o repicar dos sinos assinalaram o momento em que Francisco concluiu a leitura da fórmula de canonização, em latim.

A comunidade católica em Goa fez-se presente na cerimónia e o arcebispo de Goa e Damão, D. Filipe Neri Ferrão, foi o responsável por apresentar a biografia do novo santo durante a Missa de canonização, num espaço de cinco quilómetros à beira-mar, o  Parque ‘Galle Face Green’ de Colombo.

Francisco percorreu o local num carro descoberto, ao som dos cânticos e danças tradicionais, e cumprimentou os doentes que se encontravam junto ao altar, antes de receber as chaves da cidade de Colombo das mãos do presidente do município local.

"Um ponto central desta visita será a canonização do Beato José Vaz, cujo exemplo de caridade cristã e de respeito por todos, sem distinção de etnia ou religião, continua a servir-nos de inspiração e lição ainda hoje", disse esta terça-feira, durante a cerimónia de boas-vindas à ilha.

O sacerdote foi um dos principais missionários no Sri Lanka, onde morreu a 16 de janeiro de 1711, e a sua proclamação como santo contou com os votos favoráveis da sessão ordinária da Congregação para as Causas dos Santos em relação a este processo, sem exigir um novo milagre.

José Vaz, sacerdote da Congregação do Oratório foi beatificado por São João Paulo II em janeiro de 1995, também durante uma viagem ao Sri Lanka.

O futuro santo foi recordado, na sua beatificação, como “um grande padre missionário”, tendo vivido de forma pobre numa época de perseguição aos cristãos, apesar de ter nascido numa família da casta dos brâmanes.

O sacerdote chegou a ser preso, sob acusação de espionagem ao serviço da coroa portuguesa, e ajudou clandestinamente as comunidades católicas, celebrando Missa de noite, para além de ter traduzido o Evangelho para a língua tâmil e o cingalês.

A página oficial da visita papal recorda que, apesar de vestígios mais antigos, o Cristianismo “começou a espalhar-se no Sri Lanka apenas com a chegada dos portugueses, no século XVI”.

Uma frota comandada por Lourenço de Almeida chegou a Colombo, a atual capital, a 15 de novembro de 1505, numa altura em que a ilha estava dividida em três reinos: o tâmil a norte e dois cingaleses, no centro e no sul.

Em 1543, cinco franciscanos enviados pelo rei D. João III chegaram a Kotte para converter o soberano local, o que viria a acontecer com o rei Dharmapala em 1551.

Esta conversão abriu caminho ao crescimento da fé católica, num esforço de missionação que contou com a participação de outras ordens religiosas, como os jesuítas ou os dominicanos.

A meio do século XVII, os holandeses chegaram à ilha e expulsaram os portugueses, ocupando os seus territórios, ao que se seguiu a proibição do catolicismo.

É neste contexto que decorreu a ação do padre São José Vaz, que entrou no Sri Lanka disfarçado, para ajudar os católicos.

As canonizações tornaram-se exclusividade papal por decisão de Gregório IX em 1234 e no decorrer do século XVI começou a distinguir-se entre “beatificação”, isto é, o reconhecimento da santidade de uma pessoa com culto em âmbito local, e “canonização”, o reconhecimento da santidade com a prática do culto universal, para toda a Igreja Católica.

OC

Notícia atualizada às 03:19

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top