Sozinho em casa ou com wi-fi?

Paulo Rocha, Agência Ecclesia

A experiência é real e por certo partilhada por muitos pais com filhos na idade da adolescência ou juventude.

Ter de deixar adolescentes em casa, no período de férias ou em dias sem aulas é sempre uma decisão difícil. Mas por vezes incontornável, mesmo que provoque preocupação constante ao longo da jornada de trabalho. Já para os filhos, raramente se percebe essa angústia, talvez natural para quem, sendo novo, se visse sem mais ninguém dentro de quatro paredes.

Em causa não está a liberdade sentida pelos mais novos para fazer o que a presença dos pais não permitiria (o que é uma possibilidade real a exigir permanente atenção). Mas é sobretudo um novo conceito de vizinhança, de proximidade, de amizade que está em causa. Há uma nova sensação da presença do outro, do amigo, do grupo.

Hoje, estar sozinho em casa combate-se com o wi-fi. Para ter “companhia”, basta estar conectado, basta ter internet. E é essa a experiência de muitos nativos digitais.

No livro “Ciberteologia – Pensar o Cristianismo na era da Internet” Antonio Spadaro analisa o ambiente que as redes sociais criaram e as novas circunstâncias de vida que inauguraram. E afirma que “o conceito-chave não é a «presença» na rede, mas a «conexão»: se alguém está presente mas não conectado, essa pessoa está só”.

O padre jesuíta, que está em Portugal nos primeiros dias de outubro para participar em vários debates sobre estas temáticas, participando nomeadamente nas Jornadas Nacionais de Comunicação Social, na manhã do dia 4, diz também que o conceito de «próximo» e sobretudo de «amizade» “se modifica e se desenvolve” por causa da rede.

A experiência da proximidade do outro, sentida por quem está sozinho em casa, possível pela conexão a uma qualquer rede social, não será só motivo de descanso.

A rede é “uma ajuda  potencial às relações” e “uma ameaça”. A certeza é do padre Spadaro, que retoma mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais do Papa emérito Bento XVI onde se repete essa pergunta “quem é o meu próximo?”.

Neste ambiente, como em todos os que permitem experiências de comunicação, o ponto de chegada é sempre a relação entre pessoas, a acontecer de forma transparente e sincera. E quando assim é, não basta o digital…

Partilhar:
Scroll to Top