Sonhar um Portugal novo com quem ainda não o viveu

Encontro Fé e Justiça juntou caras conhecidas, abaixo dos 40 anos, para falar do futuro do país

Sonhar um Portugal novo, com olhares inovadores abaixo dos 40 anos, foi o mote para o 17.º encontro «Fé e Justiça» realizado no passado sábado, em Lisboa.

Organizado pelo Centro Universitário Padre António Vieira – CUPAV – o encontro convidou rostos jovens, na maioria conhecidos do grande público, que a cada dia tentam inovar Portugal.

Padre Miguel Ferreira, jesuíta e director do CUPAV, disse na abertura do encontro que “o dia estava virado para os jovens, uma forma de pensar e repensar no que é hoje um projecto de vida. É a expressão visível para todos e um momento forte para abrir horizontes”.

Joana Carneiro, Directora Musical da Orquestra Sinfónica Berkeley, foi a primeira convidada a tomar da palavra, falando da sua experiência de forma apaixonada: “Quando me perguntam que instrumento toco, quando digo que a minha profissão é música, eu digo que toco a orquestra”.

Ricardo Araújo Pereira, guionista e humorista, falou da sua experiência em várias escolas católicas e o seu percurso de vida: “O riso, a capacidade de nos rirmos, tão própria e característica do ser humano, alivia o imenso fardo que todos conhecemos, que é o facto de irmos morrer um dia”.

Fazendo jus à sua condição de comediante, Ricardo Araújo Pereira fez a plateia dar algumas gargalhadas e realçou o riso como a forma de distorcer a realidade, mas também como meio de a devolver de forma mais clara. O guionista, ateu assumido, respondeu ainda que é ateu “porque Deus ainda não me conseguiu tocar”.

O terceiro interveniente foi José Tolentino de Mendonça, padre e poeta, que colocou o seu discurso em tom muito próximo para com os jovens da sala: “Eu sou uma obra dos outros, sou o que sou com tudo o que me é oferecido pelos outros”.

A certeza de ninguém caminhar sozinho rumo ao futuro e a construção de cada um depender dos outros foi o ponto mais sublinhado pelo director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Dilemas do presente

Depois do primeiro tema os mais de 500 participantes eram divididos por 4 painéis de temas: Família e Trabalho, Portugal/Estrangeiro, Laico/Religioso e Estado e Sociedade Civil, integrados na grande temática «Dilemas do Presente». À tarde o método foi o mesmo e as temáticas decompostas em Educação, Trabalho, Espírito e Ecologia/Justiça Social, inseridas em «Eixos para o Futuro».

Dos vários painéis destaca-se a participação de Pêpê Rapazote, arquitecto e actor português, que falou de família: “Tenho um trabalho que me permite estar com a minha família, apesar de ser um dilema de hoje, tudo pode ser ultrapassado se a nossa força de viver for mesmo a família e o que ela nos dá…”

Outro actor presente era Pedro Granger, um jovem que fez questão de dizer que se encontra abaixo dos 40 anos e por isso aceitou de imediato reflectir de forma positiva no tema trabalho.

“A Igreja tem de ser sobretudo algo que traga para dentro, que inclua, e é bom pensar nesta temáticas. Pensar também a minha vida foi um desafio… Mas sou feliz a fazer o que faço e o segredo talvez seja mesmo esse”, apontou.

Paula Moura Pinheiro, jornalista, assumiu que “a graça, a humildade e a ambição é o que distingue todos os que são religiosos e por isso todas as consequências cívicas que daí advêm, toda a alegria e tristeza do Mundo”.

Nuno Delgado, judoca olímpico, frisou que “conviver com pessoas com valores cristãos dá-me uma nova visão da vida”.

Reconhecer o Espírito

Uma jovem cantora encontrava-se no painel «Espírito». Carminho, revelação do fado, contou a sua história de vida dando como exemplo as vezes em que hoje percebe que foi “tocada pelo Espírito, na simplicidade de estar com os mais velhos e perceber que afinal a minha vocação era cantar”.

No mesmo painel encontrava-se Bento Amaral, praticante de Vela Adaptada, que colocou a sua história de vida, como uma expressão de amor. “Ao ficar numa cadeira de rodas é muito difícil aceitar que todos nos queiram ajudar… É preciso ser tocado e depois aprender a aceitar a riqueza que é a relação com os outros, a sua ajuda e o seu carinho”, relatou.

Rita Cortez, escrava do Sagrado Coração de Jesus, esteve no painel Ecologia/Justiça Social, e deu a experiência de trabalhar com os alunos integrados no projecto TASSE, que visa diminuir o abandono escolar.

O programa decorre na Quinta da Fonte da Prata, bairro social localizado em Moita do Ribatejo, procurando ainda o aumento da empregabilidade e de experiências profissionalizantes e a promoção do empreendedorismo e da participação activa dos jovens.

Este projecto foi o vencedor da segunda edição do prémio Padre António Vieira, entregue no fim da tarde, pelo superior dos Jesuítas em Portugal, em parceria com a Rádio Renascença.

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Agência ECCLESIA

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