Paulo Rocha, Agência Ecclesia
Foi uma mensagem repetida ao longo de um filme intenso, ao longo de mais de duas horas, até ao último segundo: “Os filhos de Deus não estão à venda”. Não se trata de uma ficção, mas de um drama que atinge milhões de pessoas e um crime que permanece na humanidade: o tráfico e exploração sexual de menores.
Antes de tudo, o aplauso para quem teve a coragem de não deixar cair a história no esquecimento, como a grande maioria das vezes acontece. Como se diz no fim da fita, citando Steve Jobs, a pessoa mais poderosa do mundo é aquela que é capaz de contar histórias. Sobretudo as que denunciam os dramas da humanidade, a escravatura humana, a exploração, o aniquilamento do outro. É o caso desta película, agora nos cinemas, a denunciar o realismo da exploração sexual de menores: “Som da liberdade”.
O argumento não é ficção, mas uma história verídica, que denuncia a compra de crianças na América do Sul para serem vendidas na América do Norte, entre outros “destinos”, e de um polícia que foi capaz de deixar a família para resgatar centenas de menores das mãos de mercenários.
Este é um tema a que a sociedade tem dado progressivamente mais atenção, para denunciar todas as formas de abuso, nomeadamente sexuais sobre menores, mas que ainda está longe de uma resposta minimamente capaz. O filme “Som da Liberdade” comprova a gravidade deste drama – e não é pelo facto de se passar no continente americano que deixa outras geografias menos envolvidas nestes crimes -, encoraja à denúncia de quem esteja implicado em tais iniquidades e mostra que é urgente enfrentar histórias concretas, casos específicos e situações reais, independentemente do contexto onde se verifiquem e de personalidades que possam estar envolvidas.
Nos últimos meses, o tema dos abusos sexuais sobre menores esteve particularmente presente quando em causa estavam ambientes da Igreja Católica. E ainda bem, pois constitui uma oportunidade para enfrentar, sem hesitações, este crime, combatê-lo, acolher as vítimas e ultrapassar épocas mais sombrias da sua história, sempre na afirmação da “tolerância zero”. Uma oportunidade para ser escutado o “som da liberdade” nesses contextos, que tem de ser ouvido em todos os outros da sociedade. A Igreja Católica, ou qualquer organização religiosa, ao afirmar e demonstrar que “os filhos de Deus não estão à venda”, mais não faz do que expor-se a uma coerência essencial. Um passo de muitos que é necessário dar, em sociedade, para que, em qualquer recanto, seja possível ouvir o “som da liberdade”.